Esse artigo é a SEGUNDA PARTE do resumo da Aula 06: “Exu na Umbanda” do Evento Teologia de Umbanda com Alexândre Cumino.
Neste artigo, vamos entender as diferenças entre Exu na Umbanda e na Kimbanda. Também, iremos destacar como essas religiões distinguem e se relacionam, a partir da origem e do desenvolvimento único de cada tradição.
Além disso, abordaremos a representação de Exu e Pombagira, Entidades frequentemente mal interpretadas, e como elas refletem a complexidade da espiritualidade e da natureza humana.
Raízes Kimbanda e Umbanda
A Kimbanda tem raízes na cultura africana Banto e refletida no idioma Kimbundo que é falado em Angola, tem a mesma origem da palavra Umbanda. Ambas as práticas, embora distintas, surgem de uma base comum.
Enquanto, a Umbanda incorpora influências do Espiritismo, marcada pela transição de espíritas como Zélio de Moraes e Benjamin Figueiredo, que acrescentaram a incorporação de Caboclos em seus trabalhos. Além disso nos anos de 1920 a 1940, ocorreu a absorção de elementos da Macumba Carioca, o que trouxe uma essência forte da cultura africana para a religião. Essa fusão foi o pontapé inicial de algumas vertentes da Umbanda que conhecemos hoje.
Por outro lado, a Kimbanda tem algo único, que honra Entidades, como Exu e Pombagira, enquanto preserva suas raízes africanas, especialmente a Banto-Congo. Igual a Umbanda, a Kimbanda apresenta uma diversidade com várias expressões que ressoam com o dinamismo cultural brasileiro.
Desmistificando Exu e Pombagira
Aluísio Fontenelle, em sua obra de 1950, “Exu”, explorou de forma pejorativa a complexidade dessas Entidades e as comparou com demônios, destacando as práticas afro-brasileiras.
No Brasil, existiu uma época em que vários ocultistas mergulhavam fundo em magias consideradas negativas, estudando obras como a de Aleister Crowley e a demonologia da Goécia, que permitia praticar magia tanto para o bem quanto para o mal.
Essas pessoas começaram a associar a magia africana e os Exus da Umbanda com essa energia mais obscura, como se fossem demônios, mesmo não sendo essa a verdade. Teve até quem chamasse essa prática de Kimbanda, pensando que Exu e Pombagira estavam ali só para fazer o que a pessoa quisesse, inclusive coisas ruins.
A natureza de Exu
Mas olha só, Exu reflete muito do que somos. Se alguém acha que Exu pode fazer tanto bem quanto mal, talvez seja porque essa pessoa esteja nessa dualidade também.
Se você está em um ambiente que faz o mal, uma hora isso vai voltar para você.
Alexândre Cumino
Estudar espiritualidade é entender que o que você deseja pro mundo, de alguma forma, volta pra você. A força das palavras, o poder dos desejos são exemplos disso.
Então, se Exu não te orienta que desejar mal a alguém eventualmente traz o mal de volta pra você, como ele pode ser mestre? Na verdade, Exu, na tradição africana, é uma consciência, uma inteligência que jamais incentiva a fazer mal a outros.
O verdadeiro papel de Exu
Anos atrás, estudei com Bàbá King, uma referência em Exu na África, e ele deixou claro: invocar divindades para o mal? Nem pensar. Isso não é o que Exu representa, seja como Divindade ou Entidade.
Quem busca fazer mal precisa repensar suas conexões espirituais, porque, pelo menos pra mim, as Entidades que me cercam são como família, mestres na minha caminhada. Exu, sendo um mestre, jamais apoiaria a ideia de fazer mal. Essa ideia de Exu fazendo bem e mal é coisa antiga, de um tempo que a própria Umbanda talvez não entendesse tão bem quem é Exu.
Eu não estou dizendo isso porque é assim no meu Terreiro ou porque eu acho que é assim. Não, é assim porque tem uma fundamentação, porque temos referências de pessoas nessas tradições que fundamentam o seu entendimento de quem é Exu.”
Alexândre Cumino
Quer saber mais sobre a Kimbanda?
Assista essas entrevistas recomendadas por Alexândre Cumino sobre o tema:
- Rodrigo Queiroz entrevista Tata Nkisi Katuvanjesi: Candomblé Angola
- Aula com Bàbá Mário Filho: Quimbanda e Kimbanda
Esse artigo é a SEGUNDA PARTE do resumo da Aula 06: “Exu na Umbanda” do Evento Teologia de Umbanda com Alexândre Cumino realizado em Março de 2023.
- Acesse a primeira parte desse conteúdo em: Pode acender vela para Exu em casa?
- Acesse a terceira parte desse conteúdo em: Exu precisa ser batizado na Umbanda?