Perguntas e respostas sobre o Desenvolvimento Mediúnico 

Perguntas e respostas sobre o desenvolvimento mediúnico

Esse artigo é a SEGUNDA PARTE do resumo da Aula 07: “Cinco verdades sobre o desenvolvimento mediúnico” do Evento Teologia de Umbanda com Alexândre Cumino.

Muitos se perguntam sobre como começar, o que esperar e como lidar com os desafios que surgem na jornada de desenvolvimento mediúnico. Este artigo traz esclarecimentos essenciais para perguntas feitas para Alexândre Cumino durante durante o segundo Ao Vivo do nosso evento de Teologia de Umbanda.

O ambiente/terreiro pode atrapalhar ou prejudicar o desenvolvimento? 

Quando chegamos em um ambiente, independente da religião, precisamos avaliá-lo se é um lugar de paz, gratidão, harmonia e que acalma o nosso coração e, se a resposta é positiva significa que estamos no local correto. 

O mesmo acontece em um terreiro, é preciso analisar como se sente ao frequentar uma gira e se ao final do atendimento, você sai melhor do que entrou e é nesse momento que encontra a resposta, junto com a avaliação da corrente mediúnica, do sacerdote e se a casa está de acordo com o que você acredita. 

O ambiente religioso precisa trazer qualidade de vida para as pessoas que frequentam, que é tudo que esperamos das mensagens dos Orixás, Entidades e Deuses de diferentes crenças e culturas que aplicam a “regra de ouro”. 

Regra esta que é: “Não fazer ao outro o que não quero para mim”, e ela se torna maior ainda quando: “Ame ao outro como a ti mesmo”. Portanto, primeiro precisamos aprender a nos amar, pois não conseguimos amar o outro sem se amar. E este é um caminho de aprendizado. Não basta apenas incorporar a Entidade, mas é necessário incorporar a si na vida, que é encontrar sua verdade, paz e harmonia. E a partir disso ir ao encontro do Preto-Velho, Caboclo e Criança, por exemplo. 

Ao começar o desenvolvimento não podemos mais parar? 

O desenvolvimento mediúnico não é um pacto. 

Existe uma frase de Dom Juan, no livro de Carlos Castanhedas que diz: “Se um caminho não tem mais um coração. Então não se incomode de abandoná-lo”. Sendo assim, enquanto seu coração estiver naquele lugar, esteja com ele. E para onde for o seu coração, siga com a sua cabeça e não ao contrário. 

Desenvolver a mediunidade é uma missão para esta vida? 

Existem pessoas que dizem que se sua missão é a mediunidade de incorporação e se não cumprir nesta encarnação, você terá que voltar em uma próxima. Porém isso não é verdade. 

“Missão é onde está o seu coração e ela pode mudar a qualquer momento”. 

Ninguém é obrigado a ficar na Umbanda. Você fica na religião quando entende que este é um caminho de um coração e ela dá sentido para sua vida. 

Enquanto o relacionamento com os Orixás, Entidades, realizar firmezas e rezas estiver fazendo sentido em sua vida, permaneça, mas não como uma dívida ou que isso irá virar um peso para próxima encarnação. 

Afinal, pouco sabemos desta encarnação, contudo não podemos inventar coisas que não sabemos sobre ela. Por exemplo: Pensar que antes de encarnar você assinou um “contrato” que ia ser médium. 

O boliviano Xamã Romã dizia: “Deus deu o livre arbítrio e nem Deus o tira”. Então nada que corte seu livre arbítrio pode ser levado a sério, pois até o último momento você tem o direito de ir e vir aonde quiser, principalmente dentro da espiritualidade ou religião. 

Incorporação é um carma pesado?

Incorporação é uma oportunidade de encontrar a sua família espiritual. 

É a chance de ver o mundo com os olhos de Preto-Velho; os ouvidos de Caboclo; falar as palavras da Criança e dançar a dança do mundo com a Pombagira. Então não é um peso, mas um privilégio de nos tornarmos pessoas melhores. 

Ser médium de incorporação não significa que é um devedor da lei e que precisa “pagar” seus pecados, pois não importa quem você foi na vida passada, o que interessa é você agora. 

Independente de quem você foi na vida passada, se Deus, a criação, a natureza apagou de nossa memória, existe alguma razão para isso. E a razão é que devemos fundamentar as coisas da nossa vida a partir de quem somos agora e não do que “achamos” que fomos, pois não há nenhuma certeza. E só podemos ir ao encontro do que somos e fundamentar as crenças e valores a partir de quem somos hoje.

Eu preciso desenvolver mediunidade para meus guias “evoluirem”?

Esta é uma crença limitada. Pensar que o guia depende da gente para evoluir, pois eles evoluem independente de nós e a gente evolui independente deles. Todos nós somos consciência, contudo podemos evoluir juntos. 

Se o espírito é uma entidade, significa que ele é mais evoluído que a gente, porque ele é mestre e nós carecemos de ter contato com eles para evoluir e não ao contrário.

Sendo assim, não precisamos se desenvolver para “ajudar” no processo de evolução dos nossos guias, o desenvolvimento mediúnico faz parte do nosso processo “evolutivo”.

Algumas pessoas nascem prontas para ser dirigente?

A ideia que nasceu pronto cria na mente de que ela não precisa se preparar, porém todos precisam de um preparo. Desde um desenvolvimento mediúnico, até o momento que a pessoa incorporada possa dar um atendimento.

Não basta estar incorporado e falando, é preciso ter uma maturidade de como lidar  com o ser humano e a maturidade está para além de incorporar e o guia falar, dar nome e riscar ponto, sendo assim, ninguém nasce pronto, todos precisam de preparo e estudo teórico.

Incorporação é possessão?

O médium em desenvolvimento mediúnico não fica possuído. Ele não é tomado por um espírito contra sua vontade. 

A incorporação é parceria e diante disso o médium aprende a incorporar e isso ocorre de forma sútil. Porém, pode ocorrer de durante este processo o médium entrar em crise, de não saber se é ele ou o guia e até duvidar de que pode incorporar. E isso ocorre exatamente porque eles não estão possuídos.

Geralmente durante o início do desenvolvimento mediúnico o médium fica tenso e sente uma vibração muito forte. Mas assim que relaxar, ele vai pensar que a mediunidade ficou fraca, mas na verdade ela só ficou sutil e leve e é neste momento que você precisa aprender a navegar nesta sutileza, como quem anda no fio de uma navalha, entre a certeza e incerteza se é você ou o guia, e nisso aprende a fazer esta travessia de quem está irradiado, que é quando o guia vem e é você quem faz os gestos.

Quando atravessar esta ponte de incertezas, o guia vem e não é mais você fazendo os movimentos com ele, mas sim ele fazendo os gestos e você acompanhando. A chave para esta travessia é uma entrega e um aprendizado que não vale a pena o questionamento e apenas se solta para ver aonde isso vai te levar. 

Neste momento que você consegue ter a certeza que está incorporado, pois as Entidades da Umbanda te levam a lugares que jamais iria sozinho, lugares da sua alma, consciência, vida, das palavras que saem da sua boca e da forma que elas chegam aos ouvidos e isso é um privilégio de ter contato com a espiritualidade. 

Como silenciar a mente e não atrapalhar a entidade que está se apresentando pela primeira vez?


Uma das formas de silenciar a mente é através da meditação. Aprender a observar seus próprios pensamentos para na hora da incorporação não confundir seus pensamentos com o de uma entidade. E o próprio processo do desenvolvimento mediúnico é um processo meditativo, pois você fica em transe quando está no processo e o conflito da sua mente pensando/atrapalhando e você começa a exercitar o aquietar/acalmar a mente. Ao longo dos meses/anos você aprende a aquietar a mente para que ela não atrapalhe e interfira na comunicação da entidade que está ali.

Qual o maior impedimento na hora da incorporação?

O maior impedimento é esta cabeça questionadora, racional, muito preocupada. Contudo, por exemplo, se você é uma pessoa que tem muita vergonha de se expor, isso se torna um um impedimento, pois você está começando a sentir a vibração de um Caboclo, e quando ele “chegar”, ele vai bater no peito, e vai gritar e a pessoa só de imaginar o que isso pode acontecer, ela fica com vergonha, do que as pessoas vão pensar no processo de desenvolvimento. 

A ansiedade é outro fator que atrapalha. Os conflitos e as dúvidas geram uma tensão emocional que cria uma tensão muscular, que a pessoa pode ficar transpirando muito durante o desenvolvimento e depois ela fica com dores e acaba se questionando, que ao final da incorporação parece que apanhou, mas isso não ocorreu e sim que você está tenso durante o processo de incorporação e às vezes está tensão pode ser confundida com força.

E às vezes, a carência pode atrapalhar durante o desenvolvimento também. Se a pessoa tem uma carência de atenção, pois uma pessoa que tem carência de atenção, ela também vai querer chamar a atenção no processo de incorporação. E isso é uma mistura do médium com a entidade que está incorporando.

Muitas questões emocionais vem à tona durante o desenvolvimento mediúnico e é por isso que para desenvolver a mediunidade o ambiente precisa ser acolhedor. O médium precisa se sentir seguro, a pessoa precisa sentir que naquele lugar ela não irá passar por um momento de constrangimento público. Locais ríspidos, que lidam com as pessoas de forma dura, em vez de ajudar no processo de desenvolvimento, podem atrapalhar ainda mais.

A incorporação é uma “tecnologia” ancestral do ser humano e ela é anterior à Umbanda. Pois existe incorporação no Candomblé, Espiritismo, Xamã, Vodu Haitiano, Encantaria, Jurema e em várias outras religiões. É por meio deste fenômeno chamado incorporação que temos contato com a nossa família espiritual, família de  de alma e nossos mestres.

Nós temos muitos guias que nos acompanham, mas todo mundo possui uma entidade no qual chamamos de guia de frente e ele está quase o tempo todo nos acompanhando. O guia de frente é aquele que temos maior afinidade, ele está tão próximo de você que chega a ter semelhança entre vocês. Por exemplo, quando você pensa para qual entidade pedir ajuda, e pensa em uma Cigana, provavelmente ela é sua guia de frente. 

Tem como ser médium de incorporação inconsciente? 

É uma ilusão pensar que inconsciente você terá mais segurança. E a grande maioria dos médiuns inconscientes não são, eles apenas esquecem o que viram durante o trabalho na hora que desincorpora. 

Ser inconsciente é não participar do que a entidade está fazendo em seu corpo. Mas o médium inconsciente está participando do trabalho apenas inconscientemente, pois a entidade incorporada está usando o seu corpo e também o cérebro.  Mesmo um médium inconsciente, ele ainda sim é um filtro. A entidade incorporada fala a partir da realidade do médium, logo a grande maioria que diz ser inconsciente, eles estão semi-conscientes e ao desincorporar esquecem. Assim como ao acordar você esquece o sonho, mas isso não quer dizer que não sonhou.

Então para o médium ser inconsciente do que uma entidade está fazendo em seu corpo, ele precisa ser consciente de que está fazendo outra coisa em outro lugar ou estar dormindo e isso é bem difícil de acontecer, porém existe.

Há um fenômeno muito raro que é na hora que a entidade incorpora o espírito do médium, o duplo etérico e o psicossoma sai do corpo e caí dormindo no chão. Pessoas que são clarividentes vêem aquele espírito dormindo. E a um outro fenômeno bem raro também que quando o incorpora, em desdobramento astral ele vai para outro lugar fazer outra coisa. 

Chico Xavier, relata no livro, “50 anos, mandato de amor”, no qual tem um texto que chama “Médium o ser interexistente”, no qual Chico relata que em determinada ocasião o corpo dele estava psicografando para a mãe de uma pessoa que estava na sessão espírita e enquanto o trabalho acontecia o espírito de Chico Xavier foi fazer outra coisa, então ele ficou inconsciente do que o corpo dele estava fazendo lá, sendo assim, ele participou de forma inconsciente do trabalho, porque a consciência dele estava em outro lugar.

A grande maioria acompanha/participa inconscientemente do que está acontecendo e qual seria graça e você não ver o mundo com os olhos da entidade que está trabalhando?

A grande experiência da incorporação é compartilhar saberes com quem incorpora em você. Então o não atrapalhar durante uma comunicação mediúnica é um aprendizado. Você não tem que aprender a ficar inconsciente, você só tem que aprender e ficar quieto enquanto a entidade fala. O aprendizado é falar menos e ouvir mais, se você tem dificuldade de aquietar a mente para ouvir o que a entidade está falando.

Os aprendizados que você recebe ao incorporar nesta semi-consciência é o que pode dar um sentido para sua e te tornar uma pessoa melhor. E se você deseja ficar inconsciente do processo, o que irá aprender com isso? E aí você seria um fantoche, um aparelho como dizem os espíritas, mas nós não somos um aparelho frio que alguém está usando, nós somos iguais a um cavalo, que é vivo está aprendendo o caminho.

Qual a importância de aprendermos a parte teórica quando estamos em desenvolvimento mediúnico?

Este é um pensamento bem comum entre alguns terreiros, de que o médium não pode ou deve estudar e isso faz parte de uma época que não existia estudo.

O estudo teologia de umbanda, o estudo sistemático e teórico da religião ele comece a existir a partir da década de 1990. Então não havia um estudo organizado e sistemático e nem existia uma grande literatura da religião antes disso.

Antes da década de 1990 as pessoas iam estudar outras religiões para entender a Umbanda, como por exemplo o espiritismo. Estudavam outra coisa para entender a Umbanda e isso fazia mais confusão. 

Estudar não interfere ou atrapalha o trabalho de uma Entidade. Quem “quer” atrapalhar, atrapalha com estudo ou ignorância.

O estudo permite entender a como ficar entregue dentro da religião para fazer com que a entidade se manifeste e comunique.

Como por exemplo, “Alexândre conta que ministra o curso Teologia de Umbanda, mas quando ele incorpora um Caboclo a entidade não vai dar teologia, pois a palavra do Caboclo é diferente da dele, que ensina a magia do ponto riscado”, mas quando a entidade incorpora nem sempre ela está usando aquelas linhas que foi ensinado com ponto riscado. 

A entidade incorpora para falar os saberes próprios dela. Mas isso não nega e nem invalida a importância desses saberes de entender quais são os fundamentos da religião.

Você não vê um Caboclo incorporado passando os fundamentos de um assentamento, firmeza, oferenda, tronqueira, linhas de trabalho, por exemplo. As entidades não incorporam para dar uma aula sobre os fundamentos da religião, elas incorporam para dar uma aula sobre a vida que é algo muito maior.

Então nós temos uma urgência em aprender sobre a vida, mas uma carência de entender os fundamentos da Umbanda e como nos movimentamos dentro da religião, por isso existe a Teologia de Umbanda.

Esse artigo é a SEGUNDA PARTE do resumo da Aula 07: “Cinco verdades sobre o desenvolvimento mediúnico” do Evento Teologia de Umbanda com Alexândre Cumino.

Alexândre Cumino

Copidesque: Maria Eduarda Decourt

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