A Umbanda é como a água, que pode ser colocada nas mãos quando dobradas em formato de concha. Mas, basta o movimento de fechar os dedos e ela já se esvai. A mediunidade de incorporação é a própria fluidez dessa água, é como um rio. Você nunca passa pelo mesmo lugar, pela mesma água, cada experiência é única e diferente. Não podemos capturar essa água. Não podemos capturar um pedaço desse rio. Apenas podemos viver esse fenômeno, sabendo que uma experiência não é igual a outra.
O conceito acima pertence a Pai Alexandre Cumino, compõe um dos capítulos do livro Médium: Incorporação não é possessão. Ele foi escrito baseado em uma das falas de Dra. Patrícia Ricardo de Souza (primeiro trecho) durante aula de curso superior em Ciências da Religião.
Por isso, começamos a leitura de hoje com a reflexão desse trecho da obra de Pai Alexandre Cumino. É imprescindível entender, que a experiência mediúnica é algo muito particular e na Umbanda ela acontece com mais proeminência por meio da incorporação dos Guias/Mestres – espíritos humanos e/ou dos Orixás – seres naturais pertencentes a outra dimensão.
Meu Pai Oxalá, como assim seres naturais de outra dimensão? :O
Bom, como o tema do nosso texto de hoje é a fundamentação da incorporação dos Orixás na Umbanda, vamos nos propor a explicar sobre esse fenômeno. Em como os seres naturais são conceituados na obra de Pai Rubens Saraceni.
No livro Os Arquétipos da Umbanda, Pai Rubens Saraceni explica que tudo é gerado por Deus e dentro disso encontramos as naturezas dos seres, dentre elas a divina, natural e a espiritual.
A distinção entre as naturezas acontece pois cada forma de vida é gerada por padrões vibratórios diferentes. Em um comparativo com a realidade desse plano, poderíamos pontuar essas naturezas como as “raças” dos povos.
Os padrões vibratórios das naturezas por sua vez, sempre estarão ligados aos Orixás Maiores (individualizações de Deus). É a partir da imantação dessas divindades que se formam as hierarquias divinas dos Seres Naturais.
Estudo sobre os Orixás na Umbanda 100% online
Nessa forma de se estudar a Teogonia de Umbanda chamamos as individualizações ou qualidades de Deus como Orixás Maiores, Orixás Fatorais, Divindades ou simplesmente Orixás. Entretanto é importante que se entenda que todas essas formas de tratamento se referem aos Orixás regentes do primeiro plano da vida. Que na base divina, estão do lado interno de Deus, regendo todas as faixas vibratórias existentes, vigiando e sustentado o universo e que se diferem dos Orixás Intermediários ou Seres Naturais.
Aos Orixás Intermediários a literatura de Rubens Saraceni fundamenta o conceito de que estes, são seres de uma das dimensões que desbocam no nosso planeta, pertencentes ao mesmo estágio da vida que nós (Plano Natural). Esses fazem parte de uma hierarquia ligada a um dos Orixás Maiores e que em um comparativo com os Guias estão em um estágio evolutivo de maior ascensão.
Os seres de natureza divina, denominados Orixás, não são incorporados por ninguém. Eles são divindades. Os seres naturais membros das suas hierarquias, estes incorporam e estão ligados aos seus médiuns, não costumam falar e se comunicam com os encarnados por gestos e sons monossilábicos.
Pai Rubens Saraceni
Portanto, esses seres não são humanos, possuem outra natureza e vivem em uma dimensão energeticamente pura. Estão em contato direto com um dos mistérios de Deus. Por exemplo um intermediário de Oxalá conhece apenas a energia desse Orixá, diferente de nós que estamos sob a regência dos entrecruzamentos dos Orixás recebendo a influência do magnetismo de todos os Orixás.
Da mesma forma que nós temos ancestralidade nos Orixás, da mesma maneira que as falanges de entidades humanas se agrupam sob a imantação de um Orixá, isso ocorre entre os seres encantados ou Orixás Intermediários, porém na dimensão em que vivem se relacionam apenas com uma regência.
Pai Rodrigo Queiroz
Pai Rodrigo Queiroz explica ainda que a mediunidade e o culto religioso cria essa ponte de conexão com esses seres vindos de outra dimensão. Por isso quando incorporam-se Orixás na Umbanda é com a manifestação dessa forma de vida que nos relacionamos e somos imantados.
Os Orixás Intermediários passam pelo mesmo processo evolutivo ao qual nós estamos passando e para eles, se relacionar com a nossa realidade é a oportunidade de interagir com as energias e sentidos nunca antes vivenciados nessa dimensão.
Os sagrados Orixás regentes da natureza têm hierarquias puras e com só uma função, unipolares e assim são regidos por só um Orixá.
Pai Rubens Saraceni
Pai Alexandre Cumino explica no episódio 16 da Jornada Teológica de Umbanda que mesmo que existam terreiros de Umbanda que não comportem a chamada de Orixás, isso não diminui a legitimidade dessa experiência na religião. Para cada um dos Orixás Maiores existem seres naturais que correspondem aquele mistério, que nós, estamos ligados por meio de nossa hereditariedade divina.
O fato de você não ver, o fato de você não sentir ou ter um dirigente espiritual que não acredita nisso, não faz com que não seja verdade.
Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada
Ele também salienta durante a explicação que a incorporação de Orixá na Umbanda não é a incorporação de Orixá no Candomblé e que as formas de se relacionar com essas manifestações são compreendidas e vivenciadas de maneiras distintas. No Candomblé por exemplo é comum que se proponha o ideal de que o Orixá está dentro do seu Ori o tempo todo.
Só faz sentido pra eles quem você é, qual a sua energia e quando eles entram em nossa realidade também recebem algo, porque há coisas aqui que não tem lá, há coisas lá que não tem aqui.
Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada
No próximo texto falaremos da diferença entre a Incorporação de Entidade e o Transe no Orixá. Vocês sabem classificar essas diferenças? Ao incorporar Orixá é possível sentir essa variação? Cadastre-se em nossas newsletter.
Estudo sobre os Orixás na Umbanda 100% online
Texto:
Júlia Pereira
Consultoria:
Pai Rodrigo Queiroz
Fontes de pesquisa:
Gênese Divina de Umbanda Sagrada, Ed. Madras, Rubens Saraceni.
Os Arquétipos da Umbanda, Ed. Madras, Rubens Saraceni.
Teologia de Umbanda – Jornada com Pai Alexandre Cumino
Imagem: Retirada da internet (link para acesso)
20 Comments
Bom dia! Excelente ! Nos terreiros de Umbanda na Bahia existe muito a prática de incorporação dos Orixás, e estes falam, dão passes, puxam pontos e dançam. Além disso, o médiuns de Umbanda trabalham com seus orixás de frente. Seria possível comentar tambem sobre esse assunto?
Irmão, respondemos seu comentário no face. Porém, segue resposta nesse meio também.
Por Pai Alexandre Cumino
“É muito raro encontrar um terreiro de Umbanda na Bahia que não seja “umbandomblé” ou seja a pratica do candomblé com os guias de Umbanda.
Há uma grande confusão entre incorporar Iemanjá ou uma cabocla de Iemanjá, confusão entre incorporar Xango ou um Caboclo de Xango.
Muitos incorporam Caboclo de Xango e acreditam estar incorporando o “seu” Xango que é um engano.
Caboclo fala, Orixá não fala, isso vale para Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outro lugar do mundo.
Orixá, ser natural que incorpora, diferente do Caboclo, não é humano e não é deste mundo, traz axé não discute as mazelas do dia a dia.
Quer saber mais? Se inscreva para a Jornada Teológica de Umbanda 2018.”
Excelente texto e conteúdo! Parabéns pelo trabalho de vocês!
Gratidão irmão. Seja bem vindo!
Boa tarde, então quer dizer que os orixás de Umbanda são os mesmos Orixás de candomblé ? Os chamados orixás intermediários ?
Se a resposta for sim, então quer dizer que mesmo sem o processo de iniciação do candomblé, pode se receber o mesmo Orixá ?
Comente pf.
Grato.
“Ele também salienta durante a explicação que a incorporação de Orixá na Umbanda não é a incorporação de Orixá no Candomblé e que as formas de se relacionar com essas manifestações são compreendidas e vivenciadas de maneiras distintas.”
Quando destacamos essa parte da fala de Pai Alexandre, intencionamos Lucas, explicar que para nós o Orixá que incorpora no Ilê seria o Orixá Intermediário, entretanto, isso não faz parte do fundamento dessa crença, aliás, esse conceito chega a ser ofensivo a um candomblecista, pois nem o conceito de mediunidade é tratado por essa vertente. Então, são formas de viver e entender uma mesma manifestação de maneira distintas. Para nós é entendido como Orixá Intermediário, mas se você é do Candomblé até mesmo o conceito do que é orixá maior se difere, por essas e outras não dá pra viver inserido em uma religião pensando com a cabeça de outra. Sobre a iniciação, é comum também que casas de Umbanda a realizem para a agregação de novos médiuns a corrente, entretanto haverá casas que nem reconhecem a manifestação de orixás no terreiro. O que descrevemos aqui é a nossa forma, que por sua vez é a forma de Mestre Rubens Saraceni de entender a incorporação de Orixá na Umbanda. Axé!
Ahh sim, compreendo a explicação.
Obg e ase ??
Gostei muito. Parabéns
Estou adorando as explicações…
Na umbanda/ kimbanda nao se incorpora oxala ? e se nao pq ?
Quero agradecer a todos vocês por trazerem conteúdos tão maravilhosos para nós.Gratidão??!
Oi Katia! Gratidão 😀
Já presenciei algumas incorporações na umbanda, e de fato o q vi foi o orixa vindo dar passe receber uma oferenda e não falava.
É comum orixá dançar na umbanda?
Gostei muito de suas explicações. Obrigada. Axé/Mojubá
Pergunta vocs não tinham um curso a distancia de umbanda e candomblé???
O estudo de Candomblé está disponibilizado no plano de assinaturas “Tradições” neste link Geraldo >> https://eadumbanda.com.br/plans/plano-tradices
Amei a explicação muito bem aplicada,de Pai Alexandre Cumino do qual sou fã!!!!Amei muito esclarecedor ?
E VERDADE QUE O, ORIXÁ PRINCIPAL E O ADJUNTO MUDA DE REENCARNAÇÃO PARA REENCARNAÇÃO, JÁ O CABALÍSTICO SEMPRE SERA O MESMO.
Olá.
Não acredito em incorporação de orixá na umbanda. Seria bem mais simples continuar dizendo que são linhas diferentes. Pra que colocar na conta do orixá seres evoluídos de outras dimensões…etc?
Umbanda: Incorporação de espíritos para caridade. Tão simples, porque complicam tanto? Pra que tantas teorias de relatividade individuais ?
Oi Augusto! A sua forma de “simplificar” as coisas ignora a diferença sentida ao incorporar Entidades e Orixás. Se você sente só de uma forma, tudo bem, continue se relacionando assim. Mas o que não pode é achar que a sua experiência resume a experiência de todos. Axé!