Por que é importante (e não curioso) saber quem são nossos Orixás?

Mas por que as religiões como a Umbanda e o Candomblé fazem a leitura dos Orixás? Eles são como signos? Todo mundo pode saber? Por que em cada terreiro um Orixá me é revelado?
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É comum recebermos aqui no Blog pessoas nos perguntado sobre qual é o “seu Orixá”. Essa curiosidade estende-se não só ao umbandista e na verdade, ela se mostra mais frequente em quem tenta por meio dessa informação mostrar ao seu entorno como é sua personalidade ou justificar alguma falha alegando ser “a influência do Orixá”.

Mas por que as religiões como a Umbanda e o Candomblé fazem a leitura dos Orixás? Eles são como signos? Todo mundo pode saber? Por que em cada terreiro um Orixá me é revelado?

Do Candomblé à Umbanda

Bom, aqui nós tratamos da Umbanda enquanto nossa vivência e estudo, por isso, a visão Candomblecista do assunto não compete à nossa voz explicar. Mas, isso não quer dizer que a gente não possa procurar quem tem competência (e vive esta crença) para mostrar seu modo de se relacionar com essa mesma ideia, que é a de que cada pessoa tem Orixás os quais são considerados pais e mães de sua vida e que estes exercem influência na personalidade de seus filhos.

Quem responde à nós é a Profa. Dra. e Ekedi da Casa das Águas – Ilê de Candomblé dirigido por Armando Vallado – Patrícia Ricardo Globo. Ela explica que no Candomblé, a concepção de se ter um Orixá que rege o seu Ori (cabeça) norteia toda a relação do povo de santo com o mundo. Por isso a maneira com a qual essa pessoa se relaciona com os que estão a sua volta e a forma como ela enxerga a si mesmo são também explicados pelo “seu” Orixá.

Nesta crença a revelação é tida por meio do jogo de búzios (prática oracular que pode ser praticada tanto por homens como por mulheres, porém somente por sacerdotes/sacerdotisas ou iniciados no mistério do jogo). Desta forma, os filhos de santo vão saber sobre a regência dos seus Orixás por meio da adivinhação, que se dá na interpretação da caída dos 16 búzios.

A Patricia Globo, conta que para o Candomblé saber de qual Orixá cada pessoa é, se caracteriza como algo transformador e muito profundo, essa questão é tão forte, que uma das primeiras coisas que uma pessoa faz ao se aproximar da religião é descobrir qual é o seu Orixá.

Ainda que a pessoa não venha a fazer parte da religião, a ser iniciada, é sempre uma experiência e tanto. Isso porque isso significa saber de si de um jeito muito profundo, os Orixás são nossa essência e nosso norte, quando se sabe disso acontece um profundo encontro da pessoa consigo mesma.
Profa. Dr. Ekedi Patricia Globo

Ela explica também que o mergulho na religião possibilita que essa descoberta ganhe uma ligação e uma identificação profunda e viva em cada um e que o povo de santo considera que saber o Orixá de alguém é também saber o que esperar desta pessoa em diversos aspectos.

No Candomblé de forma geral, há duas regências: a do Orixá principal, o que pra nós seria o de cabeça e o Adjunto que também ganha um sentido semelhante ao da Umbanda, onde esse Orixá tem como atribuição as questões de cunho emocional que a pessoa apresenta em seu ser.

Por tudo isso não é simplesmente curioso saber quem é o dono da sua cabeça. Ser de um Orixá é uma benção, um orgulho e uma marca. É saber de si e do outro, é saber o seu lugar no mundo e andar de cabeça erguida pelo mundo, pois sabemos que somos filhas e filhos dos deuses e nunca estamos sós.
Profa. Dr. Ekedi Patricia Globo

Na Umbanda, não é comum o uso do jogo de búzios para a revelação do Orixá, mas isso não impede que algumas vertentes mais africanistas tenham como fundamento a prática oracular. Mas quando isso não é o habitual, a revelação normalmente é feita pela entidade em que a pessoa está passando pelo atendimento – a conversa com o médium incorporado.

Nesta religião o Sacerdote também pode ter o conhecimento dessa informação e (mais incomum) existem terreiros que recebem um espírito que só virá nesta ocasião, com o objetivo de realizar a revelação.

O umbandista tem certa reserva com a leitura dos Orixás, para nós, saber de quem nós somos filhos, ao qual denominamos de triangulação que nada mais é do que os três Orixás que regem nossa espiritualidade e ancestralidade, é um merecimento. Por isso, é natural que você pergunte para uma entidade no terreiro de Umbanda sobre quem é o seu Orixá de cabeça e ela desconverse a prosa.

O momento certo da revelação não é uma regra, mas o que aprendemos é que se não estivermos preparados para saber o que fazer com essa informação de quem são os nossos Pais e Mães Orixás regentes, não faz sentido nenhum essa descoberta.

Diante disso em ocasiões como iniciação do médium e preparações sacerdotais são maiores as chances de se acontecer a revelação.

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Astrologia e Umbanda 

Orixá não é Signo. Os Signos do Zodíaco são interpretados pelos Mapas Astrais, que são um modelo matemático-simbólico, que visa interpretar a posição do sol, da lua, dos planetas e como esses astros podem influenciar e atuar em cada campo da vida de uma pessoa.

Um mapa astral pode ser codificado por alguém que tenha se aprofundado em Astrologia que segundo a Astróloga Patrícia Ungarelli se conceitua como o estudo dos astros, considerada uma ciência humana inserida nas ciências ocultas. Para entender o seu mapa além de um astrólogo você também precisa saber a data, o local e horário exato do seu nascimento.

Segundo a Astrologia os corpos celestes (todo corpo físico do espaço) exercem influência em nossa maneira de ser e desta forma, a posição em que esses astros se encontravam no momento da nossa vinda à vida define algumas das nossas qualidades.

Mapa Astral como definição é a fotografia do céu em um determinado momento definindo aquele evento, seja (nascimento) uma pessoa ou um evento no tempo e no espaço. Lógico que existe toda uma simbologia nele..no seu desenho e ele mostrará as posições dos planetas no nosso sistema solar naquele momento. Nós podemos pontuar outros objetos também, asteroides, sistemas, pontos, mas basicamente uma leitura astral são formas de interpretar aquele mapa.

Patrícia Ungarelli

A Patrícia também explicou pra gente que apesar de sempre nos referirmos sobre a “energia” de determinado signo, eles em si não carregam nenhuma energia e que o que acontece é que cada um terá um planeta que o qualifica ou para entender melhor, que o “energiza”.

Ungarelli define que pensando nessa correspondência entre signo e planeta nós estaríamos falando de potenciais arquétipos (personalidades) e se nós pudéssemos olhar por ai, a função dos planetas de doar para esse signo a sua energia particular, faz dos signos qualidades.

Ela explica que os signos são como uma lâmpada de luz branca que ao colocar um papel colorido sobre ela, adere aquela coloração. Sendo assim, o signo de cada pessoa irá aderir as qualidades do planeta que o rege e por sua vez, irá transferir um pouco dessas qualidades a pessoa.

Com isso nós já entendemos que diferente dos Orixás, os signos não podem ser classificados como Divindades ou irradiações puras de Deus que doam à nós, essências, fatores, natureza, delineando nossa personalidade.

E mais, que o que a leitura do mapa astral faz é mostrar algumas de nossas inclinações, onde, por meio desse cálculo matemático que considera os elementos de cada signo, extrai-se as características frequentemente presentes na personalidade dos indivíduos e/ou eventos.

Cada signo tem um elemento terra, água, ar ou fogo, cada um tem um ritmo que pode ser: cardinal, fixo ou mutável em sua forma de atuar. Por isso, cada signo apresenta então uma qualidade, ou seja, o signo de Áries por exemplo tem a qualidade de impulso, da iniciativa, sendo fogo com ritmo cardinal, de impulsividade e assim acontece com os outros signos cada um deles tendo uma classificação. Cada um deles vai representar uma qualidade e dai nós podemos falar.. comportamentos ou características.

Patrícia Ungarelli

É nesse sentido que a Patrícia realizou um estudo, disponibilizado na plataforma Umbanda EAD, onde ela faz uma analogia entre as energias existentes nos signos doadas pelos planetas e quais Orixás podem estar possivelmente relacionado a elas.

Eu não estabeleço uma relação direta porque não é possível dizer: o Orixá é um planeta e também não é possível estabelecer um planeta para um Orixá. No meu estudo eu descubro alguns planetas para um Orixá. Porque o fundamento da Umbanda e o fundamento da Astrologia vem de caminhos e fontes diferentes. Quando as pessoas me perguntam e é uma pergunta recorrente e bem forte “se ao olhar o mapa nós descobrimos o Orixá de cabeça?” Não, não é possível. Na Astrologia, no Mapa Astral, a gente pode dizer que uma informação pra ser eficiente, ela precisa vir de um cálculo matemático. Não tem como ter um cálculo matemático ou uma regra pra dizer que para ser filho de Ogum tem que ter Marte no meio do céu ou Marte no ascendente, ou ser ariano por exemplo. Essa regra não vale, porque não bate, não é todo ariano que é filho de Ogum. Se não é todo ariano que é filho de Ogum, não da pra ter isso como regra, por isso, não dá pra descobrir os Orixás de cabeça, o adjuntó ou o de frente pelo mapa. Isso não bate porque os signos são só qualidades, não são energias, não são potenciais energéticos, não vibram, não atraem no aspecto de movimentação do mapa. Quem movimenta o mapa é planeta.

Patrícia Ungarelli

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Existe leitura errada?

Segundo Pai Alexandre Cumino, não. Mas, como assim? Porque na leitura de Orixá tudo é muito subjetivo, tudo depende do conhecimento de quantos Orixás a pessoa que está fazendo essa leitura tem ou com quais ele mantém uma relação.

Além do que, pode ser que em determinado momento da vida da pessoa, em detrimento de acontecimentos particulares e etc, ela possa estar sobre a regência de outro Orixá que não compõe a sua triangulação e que ao se fazer a leitura, estará em evidência.

Por essas razões é compreensível que em cada lugar que você consulte sua regência a resposta venha diferente. Mas, o que vale nesse tabuleiro de interpretações é o que você considera verdadeiro, qual revelação lhe trouxe mais aprendizado e autoconhecimento. E falando em autoconhecimento, essa é outra chave, a qual o nosso texto precisa para responder o seu título.

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Autoconhecimento 

Realinhar-se com a sua essência. Mergulhar em si. Compreender limitações, desejos e personas. O dom. A vocação. No que você se sai melhor e no que se vê com maior dificuldade. Nenhuma dessas questões te faz menos competente que as outras pessoas, mas te faz único, em suas particularidades, potências e limites.

Tudo isso também trata do que compõe a sua essência e de quem você herda essas características? Mais brava, mais delicado, mais magra, mais baixo…Todas as nossas feições sejam elas físicas, comportamentais ou de personalidade são desenhadas por meio de uma herança espiritual. São dos Sagrados Orixás, os Mistérios de Pai Olorum fragmentados nas Divindades, que advêm todas essas nossas particularidades.

O que nos faz únicos é também o que nos faz iguais, porque no momento que eu reconheço que o Orixá é uma força individualizada de Deus, eu considero que todos nós temos algo em comum, muito mais forte do que conseguimos palpar ou ver. É Deus manifestado em suas diversas irradiações.

As vezes tem uma família que tem o mesmo fenótipo e arquétipo físico e então eles são filhos do mesmo Orixá? pode ser que aconteça e isso pode ser explicado na afirmação de que aquele grupo tem algo a aprender com aquele mistério juntos.

Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada

Cumino, continua explicando que o arquétipo físico é um fato, mas não um fato determinante e que a qualidade que aquele Orixá é em si, influencia o seu perfil psicológico, as suas glândulas, os seus hormônios e isso também acaba gerando uma compleição física ao indivíduo.

Não existe coroa forte, coroa é o nosso chakra coronal. Não existe um Orixá mais forte que o outro, assim como não há uma combinação mais especial. A minha coroa não é melhor do que ninguém. Todo mundo nasce com coroa, que é a minha espiritualidade e ancestralidade.

Pai Alexandre Cumino em Teologia de Umbanda – Jornada

No livro Os Arquétipos dos Orixás, de Lurdes de Campos Vieira é colocado que cada Orixá detém um arquétipo específico: uma forma de se apresentar, um matiz de cor, uma dança, certas posturas gestuais, uma indumentária, uma ferramenta e outras características; enfim, uma natureza, uma configuração de personalidade que também marca seus filhos, independente de raça, nacionalidade ou credo. Esses arquétipos transcendem o espaço e o tempo.

A descoberta da sua filiação antes de tudo, acontece como um reconhecimento de si próprio. A partir do momento que você para de ir contra o que é sua essência e identifica suas potencialidades.., percebe que Deus manifestado em você tem outras formas, cores e sentidos de ser.

As sua individualidade é o que te marca. E se até Deus se fez de diversas maneiras, como poderia nós, frutos da sua criação não possuirmos identidade?

Para a Umbanda, saber quem são os nossos Orixás é como se depois de uma vida inteira, chegasse o momento em que encontramos e temos a oportunidade de um caminho, para se reconhecer e se perceber enquanto pessoa única e herdeira de uma espiritualidade ancestral.

Ao mesmo tempo que descendemos de uma mesma fonte geradora de vida… Aqui ninguém é igual.

Descobrir os nossos Orixás é também ter a consciência, da relação de respeito com o sagrado do outro, que está manifestado na sua forma de ser e agir.

Salve os Sagrados Orixás! Salve a coroa dos filhos de Umbanda!

 

 

Texto: 

Júlia Pereira

Fonte de Pesquisa: 

Teologia de Umbanda – Jornada

Entrevista: 

Profa. Dr. Ekedi Patricia Globo

Astróloga Patricia Ungarelli

Foto:

Roberta Guimarões – O Sagrado, A Pessoa e o Orixá (fotografias)

Edição:

Pedro Belluomini

Estudos com inscrições abertas pelo
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Julia Pereira

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