Rés de um processo mobilizado pelos Ministério Público Federal – MPF, Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro-brasileira – INTECAB e Centro de Estudos das Relações de Trabalho e da Desigualdade – CEERT, as emissoras já extintas Rede Record e Rede Mulher que hoje respondem pela atual Record TV foram acionadas à Justiça pela exibição do programa ‘Mistérios‘, onde em um dos seus quadros, intitulado ‘Sessão Descarrego’ fazia-se a associação de todos os tipos de males, doenças e desvios de caráter à ação de espíritos e entidades que durante a programação eram (de forma indireta) relacionados aos cultos afro-brasileiros.
Os pastores apresentadores dos quadros muniam-se de simbolismos e termos frequentemente utilizados nas denominações afro-brasileiras para ambientar e responsabilizar essas crenças pelas tragédias que acometiam as pessoas participantes.
Afim de confundir o espectador incauto, utilizavam-se também de imagens de oferendas e supostos testemunhos de conversão de exs pais e mães de santo, que na palavra do apresentador eram exs-bruxas, feiticeiras e ‘mães de encosto’.
Inflando o imaginário popular e colocando a Umbanda, Candomblé e demais manifestações dessas vertentes como ‘bois de piranhas’ para todo o tipo de desgraça social, o programa alimentava o ódio e fornecia justificava para as intolerâncias e violências de cunho religioso.
O processo que iniciou no ano de 2004 (há 13 anos) tem em seu documento de ‘conclusão‘ mais de 20 páginas, enumerando as oposições e contestações das emissoras contra a veiculação do direito de resposta das religiões afro-brasileiras.
O julgamento contra o último recurso da emissora estava previsto para o próximo dia 14 (quinta-feira) porém, segundo documento de requerimento da Record TV, o representante da causa para a emissora, Dr. Marco Aurélio Lima Cordeiro, estará em viagem para fora do Brasil entre os dias 03 e 22 de Dezembro.
A data será remarcada para o mês de Fevereiro, mas ainda não tem dia e nem hora exata estipulada. Assim que a publicação do despacho da relatora for feita, atualizaremos a matéria.
Por hora, fica a mensagem do Dr. Hédio Silva Jr., um dos representantes da causa pelas religiões de matriz africana:
Devemos manter a mobilização e garantir que em Fevereiro todo o Povo de Axé compareça ao julgamento. Agradecemos o esforço de mobilização e organização e reafirmamos nosso compromisso em manter todos(as) permanentemente informados do andamento do processo! Permanecemos confiantes em que a crescente capacidade de organização e luta do Povo de Axé trará a vitória que buscamos há tantos anos!!!
Drs. Hédio Silva Jr., Antonio Basílio Filho e Jader Freire de Macedo Jr., pelo CEERT e INTECAB.