Sexta-feira santa e Umbanda, devo me proteger?
Nesta semana muito foi falado sobre sexta-feira santa, a relação com a Umbanda e em como os adeptos podem “fechar o corpo” para esse período.
Acredita-se que essa é a oportunidade que os eguns (espíritos atrasados) têm de se aproximar de nós, pois Iansã estaria em guerra. Segundo o mito, a Orixá é a responsável por encaminha-los para um dos nove Oruns (céu).
Seria ela também a conhecedora dos mistérios da morte. Mas na madruga de quinta para sexta, Iansã está ausente dedicada à outra função.
Esse entendimento da data tem origem na crença no Lorogun. Ritual que marca o final do ciclo anual de atividades do ilê e estabelece o período de recesso da casa. Essa paralização, acontece justamente durante a quaresma. Iniciando na quarta de cinzas e encerrando-se, no sábado de aleluia.
A cerimônia do Lorogun é um rito praticado essencialmente no Candomblé. Também conhecido como a Festa para Oxaguiã, acredita-se que neste período, os Orixás estejam em guerra e esta é a razão pela qual Iansã, não pode nos proteger dos eguns durante esse período.
A maioria das festividades dos ilês e casas de Umbanda, dentro de suas particularidades, seguem o calendário católico. Sendo assim, as festas aos Orixás acompanham as datas de comemorações dos santos romanos, incorporando aos sincretismos.
Com isso, é frequente as confusões entre um sacramento que é católico e que nos candomblés vai ser totalmente ressignificado, utilizando-se apenas da data, mas que na Umbanda não fazem sentido nenhum sentido.
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O que é sexta-feira santa?
A data rememora o dia da morte de Jesus Cristo por meio da crucificação. No catolicismo, os eventos que antecedem o sacrifício de Jesus, são tidos como a Paixão de Cristo. A semana santa irá celebrar a paixão, a morte (sexta-feira santa) e a ressurreição de Jesus (domingo de páscoa).
A própria eucaristia (hóstia e vinho) ritualizada em todas as missas católicas e um dos sete sacramentos essenciais da fé católica. Reproduz em seu rito a ceia dos judeus Pessach (páscoa), que na história do Cristo, é momento, onde há a partilha do pão e do vinho com seus discípulos.
Após a ceia, Jesus é sentenciado a prisão, vai a julgamento popular e é crucificado.
O período quaresmal para os fiéis católicos, serve como um momento de reflexão. Por isso é comum que se intensifiquem suas penitências e orações, ao que a doutrina considera ser o reconhecimento de seus pecados.
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Muitos terreiros resguardam seus trabalhos nesse período, como já dito, evidenciando a forte influência do sincretismo com a crença católica.
Por essa razão, a sexta-feira santa também é considerada um momento de “risco”. Onde más influências estariam “a solta” no dia que demarca a morte de Jesus e que segundo a bíblia (Matheus 27:45) “desde a hora sexta até a hora nona houve trevas sobre toda a terra“.
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Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
A maioria dos terreiros de Umbanda prestam culto e tem suas orações na figura de Jesus Cristo. É comum ao Congá umbandista a imagem de Jesus de braços abertos. E também por isso, dogmas que tratem da vida do Cristo são facilmente importados e assimilados por essa crença.
Mas até que ponto, isso faz sentido para a estrutura de crença própria da Umbanda? Sexta-feira Santa tem fundamento à nós? Existe um período do ano em que estamos mais vulneráveis a influência espirituais externas?
Pai Rodrigo Queiroz, explica sobre o assunto dizendo que nenhuma dessas datas deveria representar absolutamente nada ao umbandista, pois se tratam de “crendices cristã-católicas”.
Sobre estarmos mais abertos à influências, ele esclarece que em função do imaginário coletivo, na sexta-feira santa cria-se uma egrégora negativa. Nesse momento, muitos praticantes de magia negra “aproveitam” da data para desempenharem seus rituais odiosos.
Ainda assim a vulnerabilidade de cada indivíduo neste dia é igual a qualquer outro, ou seja, dependendo de como está sua vibração, você fica ou não suscetível a ataques espirituais.
Pai Rodrigo Queiroz
Bom, esclarecido sobre as possíveis influências negativas nesta data. Após entender que o Lorogun é um cerimonial que integra os Candomblés sincretizando o calendário católico, e ainda, deixando claro que a sexta-feira santa é puramente dogma católico. Não nos resta nada de Umbanda nessa data, não é?
Muito Axé para nossa sexta!
Texto:
Júlia Pereira
Foto Congá:
Mariah Travezanuto, aluna de Teologia de Umbanda 2018