Assunto de grande provocação, que mantém uma cisão de opiniões e por isso se faz necessária a reflexão.
Ano após ano, a Quaresma sempre é assunto entre Umbandistas que se dividem em opiniões do tipo pode ou não pode o terreiro manter as atividades espirituais, alguns grupos ainda consideram que pode em casos de emergência, penso então “o que é um caso de emergência?”como mensurar isso? É curioso que mesmo os mais maleáveis na prática ficam receosos.
É certo que algo acontece neste período, fruto de uma egrégora atmosférica que se cria entorno do preceito católico.
A Umbanda é fortemente influenciada pelo Catolicismo e acontece duas situações por herança cultural nos dias de hoje, uma é que pela simples influência litúrgica de terreiros que adotam pontualmente preceitos da Igreja incorporam o recolhimento das atividades neste período, outra é que quando a religião ainda era perseguida e mesclava-se os cultos era necessário seguir tal preceito para não chamar atenção, isso foi mais predominante nos Candomblés para ser mais exato.
O ponto nevrálgico da discussão, que fique claro, respeito todas as particularidades da nossa plural religião, é se tem ou não fundamento tal preceito. Como dito acima é mera influência, mas é curioso o discurso que justifica a adesão que muitas vezes é pura fantasia mítica e outras é uma suspensão de responsabilidade por ex.: “os kiumbas (eguns) ficam soltos” oras, sendo assim se faz mais necessário o trabalho espiritual acontecer para garantir as defesas e a harmonia espiritual da comunidade religiosa. Mas tem algo mais amedrontador: “os guias de luz ficam recolhidos também”! Isso não é verdade…
Ocorre que todo argumento tenta apenas validar a adesão ao preceito que não é da religião de Umbanda.
Sabemos que os praticantes de magia negativa, usam este período para intensificarem suas atividades nefastas e perversas, corroborando com o consciente coletivo e de certa forma alimentando uma atmosfera mais densa nesta realidade vibratória.
Portanto, observando tal movimentação o mais natural na Umbanda é que se intensifique as atividades da casa, estimulando e mantendo a vigília espiritual e comportamental de sua comunidade.
A Umbanda é uma religião mediúnica, que tem grande atividade mágico-religiosa, sua principal atuação é no combate às trevas, recolher-se diante o enfrentamento não é da natureza da Umbanda.
Sobretudo nada deve ser temido ao Umbandista, um filho de Umbanda não deve temer espíritos vagantes ou magias negativas ou qualquer discurso amedrontador, pois além de ser típico de uma infantilidade espiritual indica também grande desconhecimento.
Os Orixás, os guias espirituais e a mediunidade não tem nenhuma relação com a Quaresma e para confirmar isso basta se permitir, é simples assim. Eu vim de uma Umbanda do medo, onde a quaresma é um terror, lembro-me que passava os dias quase enclausurado, tinha medo de sair e “pá” pegar um obssessor. Com o tempo descobri que só me pega aquilo que permito, que minha segurança é minha fé e meu comportamento, que minha força é meu coração e que para espiritualidade, nossos dogmas terrenos, são só nossos dogmas. Então rompi com isso e pasmem! Continuo vivo e sem nenhum obssessor.
O estudo é o caminho para a saúde mental e espiritual de um Umbandista, experimente estudar e sair da margem dos achismos e das fantasias passadas boca a boca titulado como tradição. Folclore, Lendas e Mitologia também são um processo de tradição…
“A tradição de se fechar os Templos de Umbanda quando não havia liberdade de crença, não tem razão de ser no mundo atual. Muito ao contrário, é nessa época que NÃO DEVEMOS PARAR, é nessa época em que a quimbanda maligna trabalha à vontade, que o Templo deve estar preparado para que, com o auxílio das entidades de luz, denunciar qualquer trabalho negativo que tenha sido feito para atrapalhar seus filhos de fé ou frequentadores.”
– Pai Ronaldo Linares –
Por Pai Rodrigo Queiroz
Imagem: Editora Cleófas
7 Comments
Acho muito interessante essa relfexão, tanto para quem é umbandista quanto para quem não é. O próprio Catolicismo faz uso do período da quaresma para chamar à reflexão, rever conceitos, fazer algum tipo de jejum, enfim, fazer como Jesus fez ao se retirar no deserto. Em vez de nos trancafiarmos em nossas casas e em nossos medos, poderíamos utilizar esse período, já que a Umbanda tem essa herança cultural, para fazermos o mesmo e nos fortalecermos espiritualmente jejuando de alguma forma quer seja de alimentos ou de hábitos. Abraço, e axé!
Sou umbandista e acho que devemos trabalhar fortemente na quaresma pois não é a época que o bicho esta souto? Pois vamos nos defender e não nos esconder.!
Tive o privilégio(e ainda tenho é claro) de aprender Umbanda com o Cacique Ubirajara Peito de Aço.Uma das coisas mais bonitas que sempre vi foram os trabalhos na Sexta Feira Santa,é claro com os Pretos Velhos.Muitas curas vi serem feitas e é claro muita salvação espiritual,então não critico quem não trabalha neste dia ,só peço que reavaliem se suas posições são condescendentes com a liturgia Umbandística ou…não. ….
È claro que também há que se levar em conta a região do país.Aqui no RS as casa de Umbanda geralmente trabalham na Sexta Feira Santa,até porque também há um significativa diferença nos ritos sagrados em relação aos demais cantos do país.
Boa noite Pai Ronaldo Linares; Penso exatamente dessa forma. Nossa fé tem que ser nosso escudo. Temos uma cultura distinta e própia, e muito bonita. Temos que valorizá-la e, na medida do possível nos apropriar e nos fortalecer cada vez mais com o que é nosso, enquanto cultura, e procurar nos libertar de ideologias que não condizem com o que cremos,
Parabéns! Vc escreve muito bem!!!
Excelente texto explicando SOBRE QUARESMA NA UMBANDA
CONCORDO PLENAMENTE! Só acho que algumas Casas de Umbanda, nos confunde e às vezes nem tocam no assunto. Sobre a sexta-feira da Paixão, já vi Casas que só os médiuns da casa trabalham alegando que o trabalho é para”Blindar’ a Casa. Agora pergunto e o pessoal da assistência, não precisa ser blindado.Enfim, temos muito a aprender.
Como já disse excelente texto.