– Roquette Pinto previa um país composto 80% de brancos e 20% de mestiços. Nenhum negro e índio.
– Euclides Cunha considerava a mistura de raças um retrocesso.
– Indo para os anos 30, nos deparamos com o negro sendo considerado um ícone nacional, o samba, a capoeira, o Candomblé, o futebol e o sincretismo começam a ser vislumbrados pelos intelectuais e políticos da época. A ideia de “democracia racial” é disseminada pelo país, e ainda, hoje afirma-se de forma genérica a harmonia racial.
A situação aparece de forma estabilizada e naturalizada, como se oposições sociais desiguais fossem quase um desígno da natureza, e atitudes racistas, minoritárias e excepcionais: na ausência de uma política discriminatória oficial, estamos envoltos no país de uma “boa consciência” que nega o preconceito ou o reconhece como mais brando
Lilia Moritz Schwarcz, em: Nem Preto, Nem Branco, muito pelo contrário: cor e raça na intimidade
No livro História da Vida Privada no Brasil vol. 4, Lilia Moritz conta sobre uma pesquisa realizada em São Paulo onde 97 % dos entrevistados negam ter preconceito, mas que – os mesmos – afirmam conhecer alguém que é preconceituoso. Outra pesquisa feita pela Folha de S. Paulo e também destacada na obra, revela que apesar de 89% dos brasileiros afirmarem haver preconceito de cor contra negros no Brasil, apenas 10% admitem tê-lo. “Todo brasileiro parece se sentir, portanto, como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados” disserta Lilia.
Durante o ensaio ‘Nem Preto, Nem Branco, muito pelo contrário: cor e raça na intimidade‘ produzido pela historiadora e antropóloga supracitada entendemos que o brasileiro não nega a existência do racismo no país, porém, atribuí isso sempre ao outro, seja falando que este foi racista ou relatando algum tipo de preconceito vivido. Por essas razões o brasileiro tem uma grande dificuldade em admitir a discriminação, mas não o ato de discriminar.
Em terra onde todos são barões não é possível acordo coletivo durável.
Sérgio Buarque de Holanda
A autora continua sua explicação durante o capítulo expondo a questão do racismo também estar ligado a condição social da pessoa “preto rico no Brasil é branco, assim como branco pobre é preto”. Enfim nessa questão não vamos nos adentrar mas, indicamos a leitura. Para explanar mais sobre o racismo velado colocaremos as considerações do professor, mestre e doutor em comunicação e cultura Juarez Tadeu de Paula Xavier, docente da UNESP – Bauru e coordenador do Nupe (Núcleo Negro da Unesp para Pesquisa e Extensão) que foi alvo no passado (julho/2015) de racismo dentro da instituição (entenda o caso). Sobre a temática onde tem forte militância disserta “o racismo afeta o estado democrático de direito brasileiro e à todos que vivem na sociedade brasileira. É um problema do Estado, e cabe a superintendência da justiça resolvê-lo.”
Em palestra, na ocasião do 20 de Novembro – dia da consciência negra – do ano anterior, o professor também falou sobre a “lógica disruptiva” e destacou a relação que nós temos com o outro, com o diverso e que para pensar essas questões é preciso sair do senso comum. Finalizou deixando como sugestão que todos nós – sociedade – procuremos saber sobre a história do negro ante processo de escravidão, entendendo sua arte, religiosidade, cultura e tradição que só assim conseguiremos encontrar nossa identidade, e a partir disso passar a nos reconhecer como resultado de todo esse processo histórico que culminou na nação brasileira.
Desinformado é aquele que pensa que nós umbandistas nada temos com essas causas, somos vertente dessa cultura, não resgatamos-as, nem reproduzimos a religiosidade africana em sua essência, mas bebemos de suas fontes para construir o Ritual de Umbanda, para tanto, somos acima de tudo, brasileiros. Misto de 3 raças e as que mais tiveram por vir. O gingado, a comida, a musicalidade, a leveza e a jeito de ver a vida tem muito dessa raíz negra já dizia Pai Antônio “Nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arespeitá”
Hoje enfatizamos mais um 20 de Novembro, esperando que esta leitura possa abrir novos interesses sobre a presença do negro em nossa religião e sociedade.
Axé!
Texto: Júlia Pereira
Imagem: Coletivo Carranca
Fontes referenciadas no texto