Holocausto, sacrifício, degola: essas são algumas das palavras empregadas pela Bíblia para denominar o abate animal.
A Torá utiliza o termo sacrifício e o Alcorão menciona igualmente o sacrifício.
A despeito da terminologia empregada pelas religiões, a legislação brasileira, europeia e norte-americana emprega a expressão “ocisão” ou “abate religioso”, diferenciando-o do abate comercial.
Do ponto de vista legal, portanto, a morte animal tem exatamente a mesma significação, tenha ela finalidade comercial ou religiosa.
Se por um lado o substantivo “abate” possui o mesmo significado jurídico (comercial ou religioso), o substantivo “sacrifício” e o verbo “sacrificar” apresentam sentidos diversos, quase sempre negativos e associados a algo ruim.
Segundo os dicionários, sacrificar quer dizer “oferecer a vítima a divindade” (hóstia) mas significa também vitimar, prejudicar, sujeitar a riscos.
O detalhe é que a maioria senão a totalidade das pessoas não tem informação sobre abate religioso e sequer sabe que este preceito é adotado por judeus e muçulmanos, além dos fies das Religiões Afro-brasileiras.
No imaginário social brasileiro, abate religioso está limitado a galinhas decepadas e dispensadas na via pública, frequentemente acompanhadas de farofa, utensílios de barro e garrafas.
A intolerância religiosa somou-se à desinformação e acabou por associar “sacrifício animal” a sofrimento animal, maus-tratos, abuso, crueldade.
Milhões de animais são mortos diariamente para abastecer o comércio de hambúrgueres, churrascarias, sapatarias e lojas de grife. Nem por isso se ouve a expressão “sacrifício animal comercial”!!!
O número de animais abatidos para fins econômicos supera milhões de vezes o ínfimo número de animais abatidos nas liturgias afro-brasileiras, por exemplo.
Ademais, a degola, utilizada igualmente por candomblecistas, judeus e muçulmanos, não demanda mais do que 2 (dois) segundos para levar o animal à inconsciência.
Por todas estas razões, o termo correto é abate religioso.
Não apenas porque trata-se de linguagem empregada pela lei, mas sobretudo porque dificulta a utilização da palavra “sacrifício” como mais um argumento a favor da intolerância religiosa e contra as Religiões Afro-brasileiras.
Além disso, a expressão “abate” serve para lembrar a sociedade que, para ter credibilidade, a condenação do abate religioso deve ser feita por vegetarianos, veganos e opositores do abate comercial.
Quanto mais pudermos desmascarar e isolar a intolerância religiosa, maiores serão as chances de êxito sobre ela.
Hédio Silva Jr., Advogado, Mestre e Doutor em Direito pela PUC-SP, ex- Secretário da Justiça do Estado de São Paulo, Professor da Plataforma Umbanda EAD
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Imagem: Carybé