Presença do sagrado nas ilustrações de Marcelo Moreno

Sáb, 19 de Mar, 2016

Sábado é dia de cultura aqui no Blog Umbanda EAD, e hoje vamos expor o trabalho de um artista que tem como inspiração os orixás, entidades e tudo que se relaciona com o sagrado das religiões espiritualistas.

Marcelo Tiago Moreno, tem 25 anos, é carioca, designer e dono da loja virtual Magia do Axé. Pra quem não o conhece pelo nome, pode ser que se lembre de uma de suas ilustrações que teve grande repercussão nas redes sociais a alguns meses atrás.

Na imagem, Moreno retratou Iemanjá levando pro mar o espírito do pequeno Alan Kurdi, o menino sírio que morreu afogado em uma tentativa de fuga de seu país, com a família. Lembraram?

Bom, se você não chegou a ver essa imagem, não tem problema, no decorrer da matéria vamos mostrar ela também!

A fim de divulgar o trabalho do artista, que diga-se de passagem é muito bom, entramos em contato com ele para uma entrevista, e o material ficou tão legal que vamos coloca-lo na íntegra aqui pra vocês!! Confere ai amigxs!

Por: Júlia Pereira

– Quem tanto colabora com o Magia do Axé? (se houver mais pessoas, qual a função de cada um).

No momento é somente eu que cuido da página. Como se tratam de ilustrações preciso fazê-las uma a uma. Geralmente as faço de noite, quando chego da agência e deixo prontas somente para postar. Mas, ficaria muito feliz de ter ajuda, porque tem muita coisa do que falar, e muito pouco tempo pra desenhar.

– Bom, a inspiração do seu trabalho está mais do que clara, mas como/quando foi que você teve essa percepção – de unir o sagrado com a arte – em algo que, de quebra exprime jovialidade?

Eu tenho a página desde 2012, e ela foi crescendo junto com a minha própria evolução. No começo fazia montagens no photoshop com assuntos que achava pertinente, logo depois criei uma outra página (que também fala sobre espiritualidade) e meio que abandonei a Magia, pois as montagens davam trabalho e sentia que ainda não era aquilo. Mas, como sempre desenhei postava meus desenhos e o pessoal curtia bastante, foi aí que comecei a desenhar e ilustrar os assuntos que eu queria falar e deu MUITO CERTO. A página renasceu com a imagem que fiz em homenagem ao garoto sírio.

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Iemanjá e Alan Kurdi/ Ilustração de Marcelo Moreno

A partir disso entendi o que sempre esteve na minha frente. Nossa religião é TÃO RICA em imagens, subjetividades, em cores, mas nosso material ilustrativo é tão limitado e pragmático. E eu senti que podia fazer algo diferente e bonito.

Com o tempo fui vendo que as pessoas também ansiavam por essa reciclagem, por essa visão multicolorida dos seres que cultuamos, de imaginá-los como seriam, de vê-los nas situações que as lendas contam, e isso é maravilhoso.

Somos uma religião com tradição oral e estamos colocando isso em um novo patamar, ilustrando o que nossos ancestrais contam desde sempre.

Os orixás me mostraram mais uma coisa com a arte do menino sírio, que eu era capaz de romper a barreira do preconceito e do ódio com arte. A arte tem esse poder de furar nossos bloqueios e tocar o âmago de cada pessoa, afinal essa imagem foi compartilhada mais de 70.000 vezes e teve mais de 30.000 curtidas.

É lindo ver nos comentários pessoas dizendo que são de diversas religiões, mas que apesar de qual Deus fosse, a mensagem de paz chegou aos seus corações. Foi a partir daí que nos dias de sincretismo faço imagens com essa interação, para buscar essas pessoas.

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Santo católico e Orixá africano/ Ilustração Marcelo Moreno

Outro caso foi esse ano, no dia de Oxóssi – São Sebastião para os católicos – quando a Pastoral da Juventude – Arquidiocese de Fortaleza compartilhou a imagem acima em sua linha do tempo propondo a paz entre os cultos e as pessoas. Parte dos católicos foi contra, outra parte a favor, e acho que é isso, a arte tem esse poder de fazer refletir sem agredir.

– Qual é o objetivo e público alvo da página e da loja virtual?

O objetivo é propor a reflexão, seja qual nação for. Tenho muito isso na página: “Eu sou de Angola e vocês só falam de Ketu” ou “ Sou de Umbanda e vocês só falam de Candomblé” e não é assim.

Meu objetivo é sempre buscar uma reflexão, seja com letras de músicas, com textos explicativos sobre determinado tema e esse pode girar em torno de qualquer nação.

O público alvo são espiritualistas de cunho Afro, já que estamos falando de orixás, Nkisis, Voduns, as forças da Natureza que nossos ancestrais negros trouxeram para o Brasil.

A loja virtual (clique aqui e confira) estreou esse ano e vem com um objetivo claro: TODOS TÊM O DIREITO DE OSTENTAR SUA FÉ COM BELEZA! Sempre vi muitas imagens distorcidas, coisas que temos na rede desde muito tempo e é reproduzido por décadas, chega!

Quero mostrar toda a beleza do meu culto de uma forma bela, das mais diversas formas que ele tem, seja Ogum de vermelho ou azul, quero trazer esse Orgulho de vestir (seja sua casa ou você) com sua fé.

– Há quantos anos elas existem?

A página tem 4 anos, desde 2012, e a loja estreou esse ano.

– Você tem novos projetos em mente?

Sim, meu objetivo é transformar a marca Magia do axé em grife especializada em arte Afro. Nós merecemos ter algo voltado somente para nós. Em breve lançarei uma linha premium de camisas minimalistas em tecido nobre, mas também manteremos as básicas, queremos que todos tenham acesso a nossa arte. Além de pinturas e esculturas próprias, enfim, o que Olorum me iluminar trarei a vocês.

– Como foi o início da sua vivência religiosa?

A religião vem por parte de mãe Baiana, feita lá, filha de Oyá Igbalé e Omulu. Desde muito pequeno entrava em lojas de artigos religiosos e ficava encantado com aquelas imagens enormes, mas principalmente com a das mulheres negras, sempre com o dorso desnudo, que eram capazes de segurar rios, peixes e sempre tão enfeitadas com uma coroa de franjas (o adê), e tão altivas, me fascinava. Isso fez com que, desde cedo, eu respeitasse o feminino como um igual.

Adorava as histórias de Oyá-Iansã, do quão era impetuosa, forte e auto-suficiente, pois minha mãe é assim e sempre foi uma presença forte pra mim. Conheci pela Umbanda, quando me apaixonei por iemanjá, da forma branca, com vestido azul, cabelos grandes e longo; queria me casar com ela… como era linda, acho que toda criança já foi apaixonada por Iemanjá.

Eu sentia um amor por aquela entidade que não era de mim, que eu não entendia, a ponto de no ano novo, em Copacabana, querer me jogar no barco que ia pro mar no romper do ano, com apenas 10 anos. Mais para frente fui saber que era seu filho, e de Logunedé, a quem dedico TANTA criatividade.

Sempre soube desenhar, e sempre amei desenhá-los, o que me rendeu na adolescência o título de “macumbeiro” na escola.

“Alguns tinham medo, outros se benziam, outros nem falavam comigo, mas eu adorava os curiosos que vinham saber mais. Adorava falar de Exu, pois todos tinham tanto medo, e para mim era tão natural”

Sempre gostei de desmitificar as coisas, de entendê-las e tentar passá-las de outra forma. Uma vez um professor me ouvindo falar de exú, em alto e bom som, mandou que eu o fizesse no banheiro de minha casa, para parar de falar “m…”, eu adorei e falei mais ainda. Talvez isso tenha me motivado a saber sempre mais para retrucar o que tentavam mal falar de minha fé.

– Qual a sua relação com a fé?

Não sigo nações, mas sou mais entendido de Umbanda e Candomblé. Gosto de levar o que ouvi uma vez um caboclo falar: “não sou de Umbanda, nem de Ketu, nem de Candomblé, nem de Catolicismo, sou espiritualista.”

Espírito trabalha em todo lugar, com várias roupagens, para os vários entendimentos. Acho que é isso. Existem muitas roupagens para as mesmas coisas, que se parar para analisar não passam de degraus de entendimento para o mesmo objetivo, evoluir espiritualmente.

Por isso que na página não defino uma nação específica, falo de axé, tudo que der axé e tiver relação com os orixás.

E apesar de algumas pessoas serem contra o sincretismo – próprio da Umbanda – eu adoro. Concordo que ele nasceu de uma opressão, mas a interação desses deuses pode promover a paz entre nós.

Confira algumas das ilustrações do artista:

 

Obavs Oxum
Obá e Oxum/Ilustração de Marcelo Moreno
Oxum e Nossa senhora
Sincretismo/Ilustração de Marcelo Moreno

 

paz_oxala
Oxalá/Ilustração de Marcelo Moreno

 

pedrada_paz
Caso Kailane Campos/Ilustração de Marcelo Moreno

 

Para conhecer os produtos da Magia do Axé, clique aqui e acesse a página da loja.

 

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Julia Pereira

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