O cenário da nova música brasileira está cada vez mais diverso, e nessa pluralidade de elementos, os Orixás encontraram espaço nas rimas de cantores da atualidade
É certo que a Umbanda assim, como a cultura afro sempre esteve presente em vários aspectos do nosso dia-a-dia, com presença forte na musicalidade do país. Os cantores de MPB em especial, trazem nas composições referências a essa religiosidade. Não somente nas letras, a menção a cultura afro é manifestada no ritmo e som dos instrumentos usados para compor a melodia.
Margareth Menezes, Maria Bethânia, Clara Nunes e Caetano Veloso, são exemplos de alguns dos cantores que enredaram com maestria composições, a luz de inspiração nos Orixás. Uns de umbanda outros de candomblé, mas todos grandes no quesito representação da fé afro-brasileira.
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Hoje, essa representação migra de gênero e os cantores que as interpretam atingem públicos dos mais diversos valores e tradições. Em entrevista ao portal Geledés o rapper brasileiro Emicida, diz não seguir a uma religião, mas que pra ele estar bem com Deus é o que basta. “Se eu tô feliz, Deus tá feliz. Se eu tô triste, Deus tá triste” completa. Seguindo a mesma premissa, o ativista, cantor e compositor Criolo, também sugere elementos de Umbanda em suas rimas. Veja abaixo alguns exemplos:
Música: Ubuntu Fristilli, Emicida.
Saravá Ogum, saravá Xangô, saravá
Saravá vovó, saravá vovô, saravá
Saravá mamãe, saravá papai,
De pele ou digital, tanto faz é tambô
Axé pra quem é de axé
Pra chegar bem vilão
Independente da sua fé
Música é nossa religião
Música: Convoque seu Buda, Criolo.
Machado de Xangô, fazer honrar teu choro
De Uzi na mão, soldado do morro
Música: Mariô, Criolo.
Ogum adjo, ê mariô
(Okunlakaiê)
Ogum adjo, ê mariô
(Okunlakaiê)
Para compor seu novo álbum Emicida visitou países da África que falam o idioma português, e nessa viagem relatou encontrar muito da cultura brasileira; religiosidade, comida, costumes, inseridos no continente. Ainda hoje, a Umbanda segue pouco externada entre os brasileiros. O último senso do IBGE apontou 0,3% da população como praticantes declarados.
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O reconhecimento da religião dentro do cenário musical, é importante porque traz visibilidade a cultura. Os números do senso não condizem com expansão da Umbanda no país, notando assim o receio dos seguidores em expor sua crença. Dessa forma, a afirmação da existência das religiões de matriz afro dentro de contexto musical moderno, contribui para a construção de uma consciência de respeito e tolerância as diversidades.
Texto: Júlia Pereira