Criação
Apesar do nome estrangeiro, o Inner Mazes é um produto nosso, desenvolvido por um time de brasileiros e que traz como referência a ritualística da Umbanda, religião que por excelência manifesta a brasilidade em todos os seus ritos.
Para contar um pouco mais sobre o processo de criação do jogo, o Blog Umbanda EAD procurou por seus criadores e demais colaboradores. Falamos com o Caio Chagas, (31), que é bacharel em Desenho Industrial (Design) pela Unesp Bauru, idealizador do Inner Mazes e quem convidou o Marcelo Rigon (35), bacharel em Física pela Unicamp, Psicanalista Clínico e game designer, a por em prática seu projeto.
Eles trabalham na Ilex Games, um estúdio de jogos indie que tem como palavra de ordem trazer “tendência profundas psicológicas e esotéricas”. O Marcelo tem como principal função a parte do desenvolvimento do jogo e o Caio divide com ele o game design (desenho de jogos).
Nos primeiros anos da Ilex Games, trabalhamos desenvolvendo jogos em flash para terceiros, principalmente educacionais para o portal Clickideia. Chegamos a desenvolver mais de 200 jogos para o portal. Há uns 3 anos decidimos focar em jogos autorais no mercado independente.
Marcelo Rigon, Ilex Games
A ideia de criação do game sobre Umbanda decorreu do desafio em se fazer um game sobre “Rituais”. No ano passado o Marcelo e o Caio participaram de um evento sobre desenvolvimento de games, o Global Game Jam.
Neste evento é tradição que os organizadores revelem um “tema secreto” e desafiem os desenvolvedores de games a criarem jogos em cima da temática proposta. Bom, com esse desafio em mente, a dupla teria que criar um jogo sobre “Ritual”, que foi o tema revelado naquela edição do evento. “Aproveitando o tema, fizemos um jogo chamado Once Upon a Tile, onde você era um místico excêntrico caminhando pelo mundo excêntrico e a ideia era fazer rituais acionando símbolos esotéricos na ordem certa e chegamos a ter uma versão do protótipo no qual você podia desenhar círculos mágicos com os selos que ia encontrando pelo jogo” explica Marcelo.
Esse primeiro projeto não rolou, porque segundo o Marcelo ele ficou maior do que eles esperavam e demoraria muitos anos para ficar pronto, contando que eles dispunham somente do trabalho dele e do Caio.
Enfim, de certa forma bom pra nós.. hehe. Foi nesse momento que o Caio contou à ele sobre um outro projeto que ele tinha feito com um time na Global Game Jam de 2015 e que foi o primeiro conceito de puzzle (jogos de video game com o objetivo de solucionar quebra-cabeças) com as entidades da Umbanda. Com isso, propôs ao Marcelo que refizessem o projeto pela Ilex Games, aproveitando a base já desenvolvida pro jogo anterior.
O Marcelo topou, mas questionou sobre a participação de uma pessoa que tivesse conhecimento sobre Umbanda. Foi então que o Caio contou sobre sua relação com os guias e disse também, que apesar de ter a mediunidade desenvolvida, não participava efetivamente de nenhuma casa. “Volta e meia vou em algum terreiro para consulta e recebo orientação espiritual da Janaína que, ela sim cresceu com a Umbanda, o Candomblé e a Jurema. A ideia do jogo veio do meu próprio contato com os meus guias. Eu nunca tinha ido em um terreiro e nunca tinha procurado sobre Umbanda quando meu guia principal se apresentou, riscando ponto, dizendo nome de falange e tudo o mais. Depois dele outros apareceram e aos poucos venho descobrindo sobre a herança espiritual da minha ancestralidade” relata Caio.
Janaína Azevedo é outra integrante desse time, mestra e doutoranda em mídia e tecnologia em Games e Cultura Brasileira, é autora de seis livros sobre Umbanda e médium ativa. Janaína é responsável pela consultoria do jogo e se empenha em trazer para o Marcelo e o Caio os fundamentos e historicidade das religiões afro-brasileiras.
Para mim, tem sido um desafio bastante interessante, pois como eu acabo “colocando a mão” no design do jogo também, precisei começar a ler bastante sobre o assunto para poder discutir se as mecânicas e/ou desafios representam ou não as entidades.
Marcelo Rigon, Ilex Games
O Jogo
Desde que entramos no site do Inner Mazes, nós aqui da equipe ficamos nos questionando sobre o seu nome, o Caio contou que o nome em inglês se deve ao fato de que o seu lançamento em acesso antecipado (vamos explicar mais sobre isso) ter sido feito em uma loja internacional “o acesso antecipado permite que o público tenha acesso ao jogo antes dele estar finalizado. Estamos estudando como promover o jogo no Brasil em português. Inclusive estamos à procura de canais de venda brasileiros que sejam adequados para distribuir o jogo, principalmente para a comunidade umbandista” esclarece.
A tradução de Inner Mazes: Souls Guides se dá por Labirintos Internos: Guias de Almas, o ‘guides’ aqui também está no sentido de almas, referindo-se às entidades de Umbanda que são os personagens do jogo.
O site do Inner explica que por ser um estúdio independente eles ainda não conseguem coletar boas informações sobre os jogadores e pedem para que as pessoas entrem em contato com eles informando o que estão fazendo bem e o que estão fazendo errado para melhorar até a versão final. Gente quem quiser dar a dica à eles pode enviar para o fórum do Inner Mazes ou para o inbox da página no facebook.
Sobre a versão final eles pretendem lançar em até 1 ano e planejam “a versão completa terá mais fases que estarão organizadas de uma forma diferente com uma narrativa mais forte interligando o ambiente. Também adicionaremos uma seção de Extras com informações reais sobre a Umbanda e as entidades espirituais encontradas que serão disponibilizadas conforme o seu progresso no jogo. Gostaria de dizer que também haverão almas vagantes com tarefas que você precisa completar e também haverão itens/fases que só será possível alcançar se conseguir utilizar a energia com precisão absoluta”.
No momento o jogo comporta algumas fases funcionais e diálogos de teste, há também um conjunto de conquistas que eles pretendem expandir no futuro.
O game classificado como um jogo por turnos* é composto por um personagem principal, no qual o jogador vai comandar, que é o Lucas. O Lucas é médium e para cumprir com todos os desafios de sua Jornada no labirinto de ilusões, fantasmas e guias espirituais ele conta com a magística dos pontos riscados e com a incorporação de entidades.
Seu objetivo é a busca por mais conhecimento e a conexão com a espiritualidade. A energia de Lucas é sua força vital, se ela se esgota: game over. Durante o jogo é exatamente isso que o jogador precisa equilibrar.
Lucas é médium praticante de Umbanda, por isso, suas entidades são Exus, Pombagiras, Preto-Velho e Erês, para cada situação é necessário que uma delas seja incorporada, durante a jornada é preciso também distinguir o momento certo de canalizar cada entidade, pois ao esvair a energia dela, ela precisará da energia vital do médium para continuar agindo e lembra né? Se ela esgotar: game over.
À medida que o jogador avança nas fases, encontrará itens e fases ocultas que desbloqueiam informações reais sobre as entidades ou itens das práticas em questão, essas funções ainda não estão implementadas, mas já estão em desenvolvimento.
Serviço
O que?
Jogo Inner Mazes – Souls Guides
Criadores e Desenvolvedores
Caio Chagas e Marcelo Rigon – Ilex Games
Consultoria
Janaína Azevedo
Custo
R$ 9,99
Onde adquirir?
store.steampowered.com/app/726820/Inner_Mazes__Souls_Guides/
Texto e Entrevista:
Júlia Pereira
Imagem:
Ilex Games
Jogo por turnos* é um tipo de estratégia de jogo de computador que ao contrário de outros jogos de estratégia não se desenrola em tempo real, mas por turnos, para cada jogador humano. Cada jogador decide suas ações no mundo estático do jogo e as realiza durante seu turno. (fonte: Wikipédia)