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Umbanda Raiz

A Umbanda é uma combinação das grandes tradições culturais do Brasil e se destaca como expressão singular da nossa identidade espiritual. Ela é a junção de heranças indígenas, africanas e europeias para emergir como uma religião brasileira.

Neste artigo, vamos falar sobre o termo “Umbanda Raiz” e o que Pai Rodrigo Queiroz explica sobre a ideia de se ter uma religião “mais pura”. Para isso, analisaremos o desenvolvimento da religião, desde os primeiros rituais dos povos originários, passando pela colonização, até o dinamismo das práticas contemporâneas.

Vamos nos aprofundar nas diversas raízes da Umbanda para entender não só suas origens, mas também como ela reflete a constante busca do povo brasileiro por uma expressão espiritual que acolha a diversidade ancestral.

As Raízes Pré-Coloniais e a Chegada dos Europeus (1500s)

O início da história da Umbanda é inseparável da chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil, um território já rico em práticas espirituais indígenas.

Os indígenas realizavam rituais próprios que foram interpretados pelos jesuítas através de uma lente europeia, muitas vezes, com desdém e incompreensão. A resistência indígena, tanto física quanto espiritual, contra os esforços de conversão e colonização, estabeleceu o terreno para um sincretismo religioso que viria ser a Umbanda.

Essas práticas foram muitas vezes suprimidas ou adaptadas diante das exigências e crenças europeias.

A resistência e a resiliência dessas tradições formam pontos chaves sobre os quais a Umbanda começaria a se construir.

A Influência Africana e o Sincretismo Religioso (1600-1800)

Com o tráfico transatlântico de escravizados, principalmente do Congo-Angola, a cultura e espiritualidade africanas foram transplantadas para o solo brasileiro.

A partir de 1580, com a chegada massiva de escravizados africanos, surgiram práticas religiosas como o Candomblé, que mais tarde influenciariam a formação da Umbanda.

A resistência e a adaptação dessas práticas, em meio à opressão e ao sincretismo com elementos católicos e indígenas, delinearam um caminho espiritual único no Brasil.

Este período foi marcado pelo sincretismo religioso, uma estratégia de sobrevivência que permitiu aos africanos e seus descendentes preservar deuses e práticas.

A Umbanda: Formação e Consolidação (1900-1940)

O início do século XX marca a formação da Umbanda como uma religião distintamente brasileira.

Em 1908, através das manifestações mediúnicas de Zélio de Moraes, a Umbanda anunciou sua presença, enfatizando a inclusão e o acolhimento de todos, independentemente de sua origem ou status social.

A partir desse ato, Zélio estabeleceu a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, marcando o nascimento “formal” ou instituicionalizado da Umbanda. Esse período também viu a Umbanda se diferenciar do Candomblé e do Espiritismo, criando uma identidade religiosa única que enfatizava a inclusão e a diversidade.

Este período foi crucial para estabelecer a Umbanda como um espaço de expressão espiritual livre, integrando elementos das práticas indígenas, africanas e espíritas.

Diversificação da Umbanda (1950-presente)

Desde a consolidação da Umbanda, a religião continuou a crescer e a diversificar-se, refletindo as mudanças sociais e culturais do Brasil.

A partir dos anos 1950, diversas linhas e tradições umbandistas surgiram, cada uma enfatizando diferentes aspectos ou divindades, mas todas compartilhando o compromisso com a cura, a proteção e o desenvolvimento espiritual dos praticantes.

Desde a Umbanda Tradicional, com ênfase nas Entidades de Caboclo, Preto Velho e Criança, até a Umbanda Esotérica, que incorpora elementos do Ocultismo e do Espiritismo Kardecista, a Umbanda hoje é praticada em diversas formas, cada uma refletindo as nuances da sociedade brasileira.

Hoje, é reconhecida por sua capacidade de adaptar-se e incorporar novos elementos, permanecendo um símbolo poderoso da identidade cultural e espiritual brasileira.

Mas, qual é a Umbanda Raiz?

Com a grande história e desenvolvimento da Umbanda, chega-se a um ponto crucial de reconhecimento: a Umbanda é um organismo vivo, dinâmico, que não apenas se adaptou, mas também prosperou nas intersecções de diversas culturas e crenças.

“Ao falar de uma Umbanda mais original, ao falar de uma Umbanda mais verdadeira, me parece que sempre erramos se a gente não se pergunta qual raiz a gente está falando.”

Pai Rodrigo Queiroz em aula sobre Umbanda Raiz

Ao estudarmos mais a fundo, encontramos uma vertente de Umbanda que cultua os Orixás, os Inquices e os ritos da linha Nagô, preservando as nomenclaturas e práticas do Candomblé e da cultura Yorubá.

Também tem a Umbanda Popular, uma corrente fluida e resiliente, um recipiente para a sabedoria e os elementos espirituais que flutuam dentro do coração cultural do Brasil. Catolicismo, espiritismo, tradições africanas – todas encontram espaço nesse vasto mosaico espiritual.

Podemos concluir que a busca pela “Umbanda Raiz” é um reflexo do desejo humano por conexão e compreensão de nossas origens mais profundas. Mas, ao falar de uma “Umbanda mais original” ou “mais verdadeira”, corremos o risco de errar ao não reconhecer a variedade de raízes que nutrem a religião.

A verdadeira questão é: qual raiz estamos buscando? Cada praticante de Umbanda deve refletir sobre o legado espiritual que segue a influência em sua prática religiosa.

Não devemos mais nos perder em disputas para validar uma forma de Umbanda como mais original do que outra. Essas discussões muitas vezes desviam do essencial, podendo criar divisões onde deveria haver união.

Rodrigo Queiroz

Filósofo, sacerdote de Umbanda, pesquisador da cultura afro-brasileira, fundador da plataforma Umbanda EAD e diretor da Instituição Ubuntu.

Copidesque: Matheus Gobbi

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