O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é mais do que uma data de celebração; é uma oportunidade de reflexão sobre as raízes do racismo e como ele influencia a sociedade até hoje. Nesse contexto, é essencial discutir as visões racistas presentes nas obras de Allan Kardec, fundador do espiritismo, e o impacto dessas ideias na espiritualidade afro-brasileira, especialmente na Umbanda.
A influência do Espiritismo de Kardec na Umbanda: benefício ou contradição?
A Umbanda é uma religião única, nascida no Brasil e formada pela fusão das tradições africanas, indígenas e do espiritismo kardecista. Com uma filosofia de acolhimento e respeito a todos os ancestrais, ela preza pela igualdade espiritual entre seus praticantes. Porém, devido à influência do espiritismo, algumas visões eurocêntricas e até racistas de Kardec foram incorporadas. Isso cria uma dissonância com os valores inclusivos dos terreiros, e questionar essas influências é fundamental para manter a Umbanda fiel à sua essência.
Allan Kardec era racista? Principais citações de suas obras
Para entender o contexto, vejamos algumas passagens de Allan Kardec que revelam pensamentos racistas, segundo a análise contemporânea:
- Revista Espírita, abril de 1862 — “Perfectibilidade da Raça Negra”:
“Assim, como organização física, os negros serão sempre os mesmos; como Espíritos, trata-se, sem dúvida, de uma raça inferior, isto é, primitiva; são verdadeiras crianças às quais muito pouco se pode ensinar.”
“Com efeito, seria impossível atribuir a mesma antiguidade de criação aos selvagens que mal se distinguem dos macacos, que aos chineses, e ainda menos aos europeus civilizados.”
“Se tomarmos uma criança hotentote recém-nascida e a educarmos nas melhores escolas, fareis dela, um dia, um Laplace ou um Newton?”
“Em relação à sexta questão, dir-se-á, sem dúvida, que o Hotentote é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?“
Essas citações são exemplos de pensamentos que contradizem o princípio de igualdade espiritual e mostram o peso das influências racistas no espiritismo. Vale refletir: Até que ponto devemos manter essas ideias na prática espiritual?
Por que é importante a Umbanda desconstruir a influência racista de Allan Kardec?
Para uma religião como a Umbanda, que preza pela diversidade e igualdade de todos os espíritos e ancestrais, manter influências racistas pode criar conflitos internos e contradições filosóficas. O desafio da Umbanda é lidar com essa herança histórica sem trair sua essência. A idolatria a Allan Kardec como “autoridade espiritual” não pode justificar a perpetuação de preconceitos, pois isso enfraquece a autenticidade da Umbanda enquanto religião inclusiva e acolhedora.
Ao abraçar valores de justiça, respeito e igualdade, a Umbanda reafirma sua missão de resistência e valorização de culturas historicamente marginalizadas. Desconstruir influências racistas não é rejeitar o espiritismo, mas sim adaptar a prática espiritual aos tempos atuais, reforçando o compromisso com uma espiritualidade livre de hierarquias raciais.
Como a Umbanda pode inspirar uma nova consciência espiritual no Dia da Consciência Negra?
Neste Dia da Consciência Negra, a Umbanda tem a chance de refletir sobre suas raízes e as influências que carrega.
Perguntas como: “Qual o papel das tradições africanas e indígenas na Umbanda?” e “Como garantir uma prática espiritual sem preconceitos?” são fundamentais para essa jornada. Em um terreiro de Umbanda, não há distinções entre preto e branco, Exu e Caboclo, ricos e pobres. Cada espírito e cada ancestralidade são sagrados.
Por isso, ao questionar e desconstruir preconceitos históricos, fortalecemos uma espiritualidade que acolhe, cura e valoriza todos de forma igual. O amor, o respeito e a igualdade devem guiar cada gira, cada canto e cada consulta. Esse é o verdadeiro papel transformador da Umbanda para um mundo melhor e mais justo.
Conclusão: a evolução espiritual exige consciência e inclusão
A verdadeira evolução espiritual acontece quando reconhecemos nossos preconceitos e trabalhamos para superá-los.
Neste Dia da Consciência Negra, a Umbanda e outras tradições espirituais são chamadas a rever suas influências e abraçar uma prática que valorize a inclusão.
Que possamos construir uma espiritualidade que honre as raízes afro-brasileiras, respeite todos os ancestrais e contribua para uma sociedade mais justa.
Perguntas Frequentes (FAQ): Allan Kardec, Racismo e a Umbanda
1. Allan Kardec era racista?
Allan Kardec expressou, em alguns de seus escritos, visões que hoje são interpretadas como racistas. Em obras como a Revista Espírita e A Gênese, ele faz declarações que sugerem uma hierarquia entre as raças. No contexto atual, esses pensamentos são questionados e vistos como prejudiciais.
2. Por que é importante questionar o racismo nas obras de Allan Kardec?
Questionar essas ideias é essencial para uma espiritualidade inclusiva e moderna. A Umbanda, sendo uma religião de acolhimento e igualdade, precisa revisar influências racistas para manter sua essência de respeito a todas as culturas e ancestrais.
3. Qual é a relação entre espiritismo e Umbanda?
A Umbanda se inspira parcialmente no espiritismo, especialmente na prática mediúnica e na comunicação com espíritos. No entanto, a Umbanda agrega também tradições africanas e indígenas, criando uma religião única e genuinamente brasileira.
4. Desconstruir o racismo na Umbanda significa rejeitar o espiritismo?
Não. Desconstruir o racismo nas obras de Kardec não é uma rejeição ao espiritismo. Pelo contrário, é uma forma de adaptar práticas espirituais ao contexto atual, reforçando valores de justiça e igualdade.
5. Como o racismo afeta a prática da Umbanda?
Se ideias racistas não forem questionadas, podem surgir contradições filosóficas nos terreiros, que prezam pela igualdade entre todas as entidades espirituais. Ignorar essas influências pode comprometer a autenticidade e o propósito inclusivo da Umbanda.
6. O que a Umbanda representa no contexto do Dia da Consciência Negra?
A Umbanda é uma religião que valoriza culturas afro-brasileiras e indígenas e promove o respeito a todos os ancestrais. No Dia da Consciência Negra, a Umbanda é lembrada como um espaço de resistência e celebração da cultura negra, sendo chamada a refletir e combater qualquer influência racista em sua prática.
7. Existe racismo na Umbanda?
A Umbanda, em sua essência, é uma religião inclusiva e contra o racismo. No entanto, influências externas, como algumas ideias do espiritismo kardecista, podem introduzir elementos preconceituosos, que devem ser desconstruídos para manter a prática fiel aos seus valores de igualdade.
8. Como a Umbanda lida com a questão racial dentro dos terreiros?
Nos terreiros de Umbanda, não há distinção entre pessoas de diferentes etnias ou classes sociais. Todos são acolhidos, e entidades como Exus, Caboclos e Pretos-Velhos são respeitadas e valorizadas de forma igual, independentemente de suas origens.
9. Qual é o papel dos terreiros no combate ao racismo?
Os terreiros de Umbanda são espaços de resistência cultural e espiritual, onde há a valorização da ancestralidade africana e indígena. Eles têm um papel importante no combate ao racismo, promovendo uma prática espiritual que acolhe e valoriza todas as pessoas e culturas.
10. Como o espiritismo kardecista é visto na Umbanda?
O espiritismo kardecista é uma das influências da Umbanda, especialmente em aspectos da prática mediúnica. No entanto, a Umbanda adota uma abordagem mais inclusiva, questionando e desconstruindo visões eurocêntricas que possam ser contraditórias aos seus valores.
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