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Dia da Umbanda: história, cultura e estratégia da Religião Afro-Brasileira

Nesta imagem para o texto do Dia da Umbanda temos Zélio de Moraes, Tata Tancredo da Silva Pinto, Caboclo das 7 Encruzilhadas e a representação da Cabula.

Por muito tempo, acreditei que o 15 de novembro marcava a fundação da Umbanda. Comemorava essa data como o nascimento de uma nova religião, liderada por Zélio de Moraes e inspirada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Mas, ao longo dos anos, mergulhei mais fundo e descobri que a história da Umbanda vai muito além dessa data. O que antes eu via como um início, agora entendo como um ponto de visibilidade pública.

Compartilho essa revisão crítica não só para celebrar o que é esse dia, mas para honrar o que ele simboliza: uma longa caminhada de resistência e adaptação que a Umbanda representa.

1. O que é o dia da Umbanda e por que comemorá-lo?

O Dia da Umbanda, celebrado em 15 de novembro, é um marco importante – mas ele é apenas um ponto em uma trajetória muito mais longa.

Embora muitos considerem essa data como a “fundação”, hoje compreendo que ela marca, na verdade, o momento em que a Umbanda encontrou uma expressão pública.

Essa data é um símbolo da resistência de uma prática espiritual que une raízes africanas, indígenas e elementos do espiritismo.

2. As raízes da Umbanda: muito além de uma data

A Umbanda não surgiu do nada em 1908. As raízes da religião estão na continuidade das práticas afro-brasileiras e indígenas que existiam muito antes dessa data.

Com o tempo, percebi que o 15 de novembro é uma homenagem à persistência histórica e à adaptação da Umbanda, um tributo à sua força e capacidade de resiliência.

3. Estratégias para sobreviver: adotando o nome “Umbanda” para escapar da perseguição

No século XIX e início do XX, as religiões afro-brasileiras eram vistas como “superstições” e perseguidas.

Para escapar da repressão, muitos grupos de Macumba e Candomblé começaram a adotar a nomenclatura “Umbanda”, buscando legitimação social e uma forma de continuarem existindo.

Mônica de Aquino, em seu estudo “Da Macumba à Umbanda: Transformações Religiosas no Brasil Urbano”, explica como a mudança de nome foi uma estratégia para se proteger.

4. Reginaldo Prandi: A adaptação como estratégia de autodefesa

Reginaldo Prandi, no livro “Segredos Guardados: Orixás na Alma Brasileira”, descreve que muitos terreiros de culto afro-brasileiro adotaram a Umbanda para escapar das repressões.

“Ao adotar essa mudança, esses grupos buscavam não apenas sobreviver, mas também manter o núcleo da tradição afro-brasileira.”

Reginaldo Prandi

5. Influência do Espiritismo Kardecista na evolução da Umbanda

O espiritismo kardecista estava em expansão no Brasil e enfrentava menos resistência. Ao incorporar alguns elementos, a Umbanda suavizou sua imagem afro-brasileira e conseguiu se tornar mais palatável para a sociedade.

Essa aproximação foi uma maneira de ser aceita sem perder sua essência. Compreender isso mudou completamente minha percepção sobre o 15 de novembro, pois a viabilidade da Umbanda foi uma conquista.

6. A Reflexão de Yvonne Maggie: Umbanda e Aceitação Social

A antropóloga Yvonne Maggie, em “Medo do Feitiço: Relações entre Magia e Poder no Brasil”, mostra como a Umbanda encontrou uma forma de coexistir em uma sociedade preconceituosa ao aproximar sua estrutura da doutrina kardecista. Isso ajudou a aumentar sua aceitação social e a proteger os adeptos (Google Books | Amazon).

7. Muito além de uma data: o real significado do 15 de Novembro

Hoje, para mim, o 15 de novembro deixou de ser apenas uma data de comemoração e tornou-se um lembrete de uma trajetória de resistência e adaptação.

Representa a vitória da espiritualidade sobre o preconceito, a transformação que fez da Umbanda uma religião pública, aberta e acessível.

8. O Sincretismo Religioso como Ferramenta de Adaptação

A Umbanda sempre incorporou elementos de outras tradições, incluindo o catolicismo.

Esse sincretismo não diluiu sua essência; pelo contrário, ajudou-a a sobreviver e a expandir. Essa habilidade de adaptação é o que faz da Umbanda uma religião viva e enraizada.

9. Reflexão Final: Umbanda como pilar da identidade brasileira

Hoje, compreendo que a Umbanda é muito mais do que uma religião; é uma prova de resiliência.

Ela não representa só uma fé, mas uma herança cultural que nos conecta às nossas raízes e ao nosso compromisso com a inclusão e a diversidade.

Perguntas Frequentes (FAQ) – Umbanda e sua história

1. O que é o Dia da Umbanda?
O Dia da Umbanda é celebrado em 15 de novembro e marca a fundação pública da religião.

2. Qual o significado do 15 de novembro?
A data simboliza o início da Umbanda como religião formal.

3. Quem foi Zélio Fernandino de Moraes?
Zélio de Moraes é considerado o fundador da Umbanda, sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

4. Como o espiritismo kardecista influenciou a Umbanda?
Ao incorporar elementos kardecistas, a Umbanda suavizou sua imagem para a sociedade.

5. Qual a importância dos terreiros na Umbanda?
Os terreiros são fundamentais para preservar a tradição e oferecer apoio comunitário.

6. Como a Umbanda lida com o sincretismo?
Através do sincretismo, a Umbanda preserva suas raízes e se adapta às novas gerações.

Leia também: 7 lições que aprendi na gira

Rodrigo Queiroz

Filósofo, sacerdote de Umbanda, pesquisador da cultura afro-brasileira, fundador da plataforma Umbanda EAD e diretor da Instituição Ubuntu.

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