Há algum tempo recebemos o release do ilustrador e diretor de arte, Bruno Ortiz Bruneli, (32) sobre um projeto de sua autoria. Ao abrir o link enviado, todo mundo aqui da equipe Umbanda EAD ficou impressionado, com a riqueza do seu trabalho. Denominado Pontos Ilustrados o projeto busca transformar pontos cantados de Umbanda em história em quadrinhos.
Neste link > https://www.catarse.me/pontosilustrados < você pode apoiar o projeto do Bruno que está disponível no site da Catarse e ainda, escolher uma recompensa, que vai desde um livro impresso até um desenho original de uma entidade em A4.
Restam 15 dias para que o projeto consiga alcançar a meta e assim, ser viabilizado de forma impressa. Veja abaixo uma das páginas que compõe o livro.
https://www.facebook.com/PontosIlustrados/videos/279971192854950/
Confira entrevista na íntegra:
Por Júlia Pereira
1 – Bruno, aqui na equipe a gente ficou admirado com a riqueza de detalhes que as suas ilustrações carregam. Queria que você me contasse um pouco sobre o processo de criação e inspiração, para todos esses traços.
Tudo começou a um tempo atrás na ilha do sol, digo, com uma insatisfação profissional/pessoal. Comecei minha carreira de diretor de arte e ilustrador em 2007, sempre trabalhando em agências diversas. Pra quem não sabe esse ramo tende a ser bem puxado, com bastante correria, stress e cansaço mental, onde a gente tem que escorrer toda gota de criatividade em prol de um mercado/cliente. Lá pros lados de 2016 eu me resolvi fazer algo pra mim mesmo; e não só viver para enriquecer outras pessoas. Como sempre fui um nerd leitor assíduo de hqs, livros e games, decidi pegar essa paixão e entrar no ramo dos quadrinhos independentes. E desde então venho treinando, estudando, testando traços, pegando referências, e sentindo em cada trabalho o que realmente fazer. Tem digital, grafite, nanquim… nossa, várias formas! Tenho que sentir o trabalho antes de decidir como desenhar.
2 – Como foi o processo de pesquisa das letras dos pontos?
Sinceramente, quase não tem pesquisa. Hehehehehe. Eu tô tentando unir a criatividade com intuição. Na maioria dos casos o ponto já até vem na minha cabeça, em outros intuo que tem que ser, por exemplo, marinheiro, mas ainda não sei qual ponto usar. Porém eu procuro sempre usar um ponto que dê para contar uma historinha bacana, visualmente interessante, que dê para desenvolver a página. Tipo, um ponto do Caboclo Tupi: “Caboclo Bom, Como Eu Nunca Vi! Caboclo Bom, É O Caboclo Tupi!” Não rolaria uma página de quadrinhos bacana, saca? Meu foco é fazer histórias em quadrinhos.
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3 – Além de muito lindo, achei super útil esse livro porque no meu começo na Umbanda eu não entendia quase nada das palavras que eram cantadas. Quando você entendeu que deveria criar esse livro? E qual era o objetivo?
Foi uma mistura de casos. Para evoluir meu traço, preciso praticar e desenhar. Para desenhar os quadrinhos, a preciso de “histórias”. E com histórias curtas dá para fazer várias com traços e técnicas diferentes. Pois bem; o que é curto, objetivo, que dá pra dar uma “pirada”, tem vários estilos e ainda me deixe feliz? OS PONTOS DE UMBANDA!
Com esse estalo de ideia vi que eu ia conseguir unir tudo: prática, trabalho, lançar mais obras (e meu nome) no mercado e ao mesmo tempo difundir por uma linguagem de fácil entendimento num ramo praticamente nulo a Umbanda. Eu aprendi com meu pai e mãe de Santo, Paulo e Catia Ludogero, e minhas professoras de curimba da Umbandarte, a importância de se interpretar a mensagem dos pontos, que não eram apenas musiquinhas legais para tocar na gira.
Comecei a fazer pela página do Facebook e do Instagram em Março, com a ideia de lançar um ponto por semana. Eis que o projeto foi tão bem aceito que as pessoas começaram a pedir os desenhos impressos. “Então poxa, já que eu tenho 70% do projeto já desenhado, vou criar uns inéditos, colocar umas matérias sobre a Umbanda, e fazer uma revistona bacana!”.
4 – Existem mais projetos como este feitos por você, ou é o primeiro?
Olha, se sou, eu não sei, mas confesso que até então não vi algo parecido. Tem sim nas HQs algo mais voltado para os Orixás, pelas mãos dos grandes Alex Mir, Hugo Canuto e Amaro Braga (que são obras de leitura praticamente obrigatórias para gente). Mas minha ideia é abrir mais pros lados da Umbanda em si, e dos guias de trabalho de fato. Saravá os Orixás, sempre, mas vamos dar justiça para os humanos em evolução, né? Tanto que esse é o meu SEGUNDO trabalho. O primeiro é o Veludo dos 9 Infernos! Na verdade, quando eu resolvi entrar nessa jornada, foi a história psicografada do Exu Veludo (.http://www..com/VeludoDos9Infernos/) de um tio meu, o Nivio Domingues, que me maravilhou e me deu gana de fazer tudo isso: pensar em roteiros, em linhas de diálogo, fazer o storyboard, desenhar e fazer acabamento com nanquim, etcs, mas aí é ouuuutra história…
Espero que a Umbanda tenha mais espaço nas HQs, e que se eu faltei com justiça por não conhecer autores, quero conhecer!
5 – Como você entende a Umbanda, Orixás e Guias?
Vish, aí foi pesado! hehehehehe… É meio complicado passar em palavras o que realmente eu sinto e creio. Mas resumidamente, entendo a triade da criação – o vazio, o manifestado e o em potencial. Os Orixás são as potências de Deus, e que sempre existiram por vários nome e dogmas. É a Fé, é o Amor, é o Conhecimento, etcs… Cada potência criada tem seu lado positivo e negativo para o eterno equilibrio. No meio dessa meiuca de seres existentes/criativos tem a gente, humanos, que temos nossa jornada de sair do criador e voltar para ele, em várias encarnações, estados de materia, dimensões e consciência. Somos uma grande cadeia de seres únicos que coexistem e vivem para evolução própria e para ajudar o meio que vive, isso tudo em escalas micro e macro. Cada cultura tem sua forma de entender a criação, e a Umbanda é a forma mais “brasileira” de a gente coexistir e evoluir. É o Brasil em excelência, em todos seus lados bons e ruins. Humanos encarnados e Humanos do outro lado, com suas dualidades, cada um com sua função para existência mutua, para e dentro de Deus. Acho que é isso.
6 – As informações básicas sobre o projeto estão no site do Catarse, mas se você quiser acrescentar algo que considera importante, citar alguém que tenha te auxiliado de alguma forma, uma curiosidade durante o processo criativo, fique a vontade!
Nossa, tem tanta gente me ajudando e acontecendo que seria injusto se eu não citasse todo mundo, todos os processos e todas as histórias que estão acontecendo. Quem sabe um dia eu consiga contar.
7 – Você é umbandista?
Sim, sou também Umbandista, com um pouco de hermetismo e magia do caos. Atualmente afastado do terreiro, mas minha casa sempre será o NUM Pai Flecha Certeira http://www.paiflechacerteira.com.br/. Na época eu estava na linha de passe.
No site do catarse você também consegue baixar um PDF com uma amostra do livro, além de consultar valores e evolução da meta. Vale a pena conferir!