Por que Umbanda é Religião e NÃO uma Seita?

Os costumes do homem que dão origem a ritos, as explicações que dão sentido a origem de toda a criação e a busca por sentido na vida calcado...
umbanda-religião-seita

Hoje a maioria dos estudos sobre as religiões consideram que existam mais de vinte categorias religiosas, onde essas, agregam em si centenas de grupos religiosos, que por sua vez dão origem as mais variadas crenças e suas vertentes.

Este cenário vive em constante metamorfose, onde inúmeras funcionalidades foram sendo atribuídas às religiões por entre as diversas culturas. Inicialmente elas serviam (além de seu papel espiritual) para explicar coisas como fenômenos meteorológicos, questões de vida e morte e origem das coisas.

Com o caminhar da história do homem, as religiões também serviram como doutrinas afins de regular a moral e os princípios sociais, funcionando como estrutura política capaz de formular as leis e os regimes de determinados povos.

No momento em que as civilizações se expandem, multiplicam-se e desenvolvem-se algumas dessas questões são explicadas pela ciência, outras não, umas aceitas e outras nem tanto, nesse joio, as crenças foram se ramificando, se moldando, se esbarrando e por fim, criando suas filosofias que mesmo que diferentes entre si, tomam como base e agregam elementos umas das outras.

Religiões foram adaptadas, antigos credos foram absorvidos pela religião da sociedade que as sucedeu e novos credos surgiram, com diferentes observâncias.

O livro das religiões, Globo Livros 2014

Por isso, é notável também que em menor ou maior grau todas as religiões acabem aderindo aos sincretismos, onde elementos de uma crença anterior se fundem com as recém criadas ou em processo de desenvolvimento (por motivos diversos) e apresentem novos sentidos a rituais que já existiam.

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Um exemplo disso é o que acontece dentro do próprio Cristianismo (maior doutrina religiosa do mundo com cerca de 2,2 bilhões de adeptos) onde observamos na história a aparição de três (principais) ramos originários dele: Igreja Católica Apostólica Romana (Ocidental), Igreja Católica Ortodoxa e o Protestantismo, que por sua vez se distribuem em ordens e organizações,  como é o caso do Catolicismo Mariano, Catolicismo Franciscano, Carismático, pertencentes a Igreja Católica Romana e em denominações, como acontece nas instituições protestantes (Luteranas, Batistas, Metodistas e etc).

Além disso, ainda ressaltamos que o próprio Cristianismo também possui uma raiz para o seu sistema de crenças, onde o Judaísmo (criada em 2.000 a.C. e sétima maior religião do mundo, com aproximadamente 15 milhões de adeptos) é uma de suas maiores correspondências sincréticas.

A Bíblia tal como conhecemos, que engloba os livros presentes no Novo e no Velho Testamento é tida como escritura sagrada para a maioria dos cristãos, onde alguns segmentos religiosos, irão aceitar determinados livros e negar outros tantos.

Esta Bíblia, em sua primeira parte – que corresponde ao Velho Testamento – é composta pelo Pentateuco chamado de Torá pelos judeus e que é em si a primeira parte da Tanakh – bíblia hebraica – onde os judeus explicam a história da criação dos povos e do mundo e ainda, descrevem a aliança entre Deus e Abraão.

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Isso que acontece com o Cristianismo, Judaísmo e suas ramificações é algo natural no processo de surgimento das novas religiões, todas elas nascem reiventando, contestando e construindo um processo histórico cultural de ressignificação ao que existia em uma doutrina anterior.

Mas, dentro disso como podemos definir ou distinguir, o que é religião e o que a distancia de uma seita?

Para responder essa questão, nós recorremos ao discurso do sacerdote e mentor do estudo Teologia de Umbanda – Jornada, Pai Alexandre Cumino, que já no segundo episódio nos dá condições de argumentar para quem quiser saber, o porquê da Umbanda ser uma religião e não uma seita.

Já de início ele deixa claro sobre a dificuldade em que ainda se encontra, até mesmo por estudiosos e historiadores, de conceituar o que define religião. Pensando nisso nós aqui do Blog UEAD, resolvemos procurar outro viés importante e que cabe o destaque nesse texto para nossa legitimação enquanto religião.

Juridicamente no Brasil o que se define por religião?

Quem responde a nós é o Dr. Hédio Silva Jr. um expoente no meio jurídico e na militância pelos direitos das religiões, com foco nas de matriz afro. Dr. Hédio, que já foi secretário da Justiça do Estado de São Paulo responde dizendo que em toda a sua carreira nunca ninguém o questionou sobre isso e que mesmo que pareça simples essa é uma questão pouco difundida.

Do ponto de vista jurídico religião é uma organização e é importante assinalar que é uma organização, porque não existe mais a figura da associação para a finalidade religiosa. Conforme definição do Código Civil (Ver: § 1º do artigo 44) religião é uma organização criada com o objetivo de propagar o credo e a crença religiosa e praticar e exercer o culto e a liturgia. Não há uma lei que defina o que é uma religião exatamente porque nos Estados Laicos ou ao menos teoricamente laicos, o Direito não pode definir o que seja uma religião. Então ele define as condições para o exercício, a existência e as atividades da organização religiosa, mas não há uma definição legal para o que seja ou não religião.

Dr. Hédio Silva Jr. – Dr. em Direito pela PUC-SP

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:

- as associações;

- as sociedades;

- as fundações.

- as organizações religiosas;

- os partidos políticos.

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.

§  1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao pode público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.

Com isso, uma certeza até aqui já temos: perante a lei brasileira Umbanda é religião e todo terreiro legalizado tem todos os direitos que qualquer organização religiosa goza.

Só com isso, já poderíamos encerrar o assunto com quem busca diminuir a Umbanda e demais religiões que não possuem estrutura semelhante as das crenças dominantes. Mas seguiremos o texto com o que caracteriza o que é uma religião e portanto, também o que não pode ser considerado uma crença religiosa, do ponto de vista sociológico e teológico.

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O que é religião?

Os costumes do homem que dão origem a ritos, as explicações que dão sentido a origem de toda a criação e a busca por sentido na vida calcado na crença em uma vida espiritual, são alguns dos elementos que constituem o que chamamos por religião.

A palavra religião em seu sentido semântico se refere ao religare do homem a Deus, entretanto, nem todas as crenças tem como busca o resgate do vínculo a Deus e algumas sequer depositam sua fé na existência de uma presença Divina maior e criadora de tudo. Por isso, nem mesmo sua tradução pode explicar o que de fato se conceitua uma religião.

Pai Alexandre Cumino argumenta que religião se entende pelos ritos de determinada fé que são praticados em grupo, onde os praticados individualmente se definem por espiritualidade.

A religião se torna concreta no momento que um grupo cria um ritual e estabelece, por exemplo, um templo. Não importa se tem livro sagrado, se tem mandamento ou dogmas, não importa se está religando ou não a Deus. Não importa se a cultura é africana, brasileira ou europeia. Se você tem um grupo de pessoas com a mesma doutrina (forma de ritualizar a fé), ali já tem uma religião e ponto final.

Por isso as religiões podem propor um religar, mas não somente isso “religião é o que dá sentido a vida e é também uma instituição de abertura de sentido”. Toda manifestação de fé (praticada em grupo) acerca de algo que elabora seu fundamento próprio (oferece respostas e significados ao que é praticado) e idealiza um ritual para expressar tudo aquilo em que acreditam, pode ser considerado uma religião, mesmo que não despoje de um pontífice ou de dogmas para descrever as regras comportamentais de seus adeptos.

Contudo, o modo de viver de determinados grupos é uma das principais características para sinalizar o que se entende como religião.

E aqui adentramos outra questão: se não temos um livro sagrado ou um conjunto de regras para definir o que faz parte ou não da crença daquela determinada religião (como no caso da Umbanda), o que a diferencia de uma Seita?…levando em consideração que as seitas são caracterizadas pelas correntes religiosas, filosóficas ou políticas que não aderem total ou parcialmente a doutrina majoritária e se isolam em grupos pretendendo criar uma nova perspectiva para o pensamento dominante.

Para responder isso, nós explicaremos o conceito de Seita ao qual Pai Alexandre Cumino destrincha durante a Jornada.

Então pra quem ainda está comigo nesse texto é importante que entenda que apesar de muitas bibliografias terem sido consultadas para sua construção, a sua ordem de escrita se baseia nos conteúdos apresentados por Pai Alexandre Cumino durante o segundo episódio da Jornada.

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Se todo grupo de pessoas que ritualizam sua fé são religiões, o que são as seitas?

A conotação dada a palavra seita atualmente não é a mesma de tempos atrás (aqui no Brasil mais precisamente há 128 anos, quando então a liberdade de culto foi decretada), quando no contexto de época vivido a Igreja Católica era a religião oficial do país e sendo assim, qualquer manifestação de fé que não fosse a proferida pelo catolicismo era considerada seita.

Grupos de pessoas que saiam do catolicismo eram chamados de Sectário ou Sectarismo – grupo separado. Eles se separavam da “religião oficial” e criavam um culto paralelo. Isso era chamado de Seita.

Pai Alexandre Cumino, Teologia de Umbanda – Jornada

No início do texto nós destacamos as influências que uma religião tem sobre a outra e como elas se formam através de ressignificações de algo pré existente e nesse processo aderem a sincretismos.

Essas afirmações são exemplificadas na Jornada quando Pai Alexandre Cumino diz que todas as grandes religiões surgiram como seitas e que a figura de Jesus Cristo, tais como, suas ações são o maior e mais conhecido exemplo disso.

Jesus reúne durante a sua vida grupos de pessoas que partilham do seus pensamentos, questionando e se rebelando contra a crença dominante que ditava a forma como os judeus deveriam viver.

Jesus é Judeu. Um judeu que vive às margens, nascido de família pobre. Seu pai era carpinteiro e acredita-se que ele tenha vivido em uma caverna em Nazaré, fazendo parte de um pequeno povoado que habitava o centro-sul de Israel e vivia por entre as montanhas.

Jesus era um homem do povo porque o centro do Judaísmo está em Jerusalém capital e Jesus vem da periferia. Jesus fala a língua do povo. Jesus conhece toda aquela cultura Judaica ele não é um Sacerdote e dentro do judaísmo ele é um Mestre, pode ser considerado um Rabi ou um profeta popular. Ele envolve a multidão com seu carisma, no entanto, Jesus rasga as páginas da Torá, que é o Livro Sagrado dos Judeus. Jesus rasga as páginas do Velho Testamento, rasga metaforicamente falando no momento em que ele diz ‘atire a primeira pedra quem não tem pecado’. Nesse momento ele rasgou a lei, porque aquilo não era apenas uma questão religiosa, aquilo era a lei, a constituição daquele povo.

A mensagem deixada por Jesus segundo a tradição Cristã se manifesta por meio de suas ações, ou seja, Jesus não deixou nada escrito. Jesus foi um judeu que confrontou as regras do judaísmo vigorante em seu tempo e conclamou que mesmo as pessoas não judias e consideradas pecadoras por não seguirem o conjunto de regras dessa crença, poderiam adentrar o Reino de Deus, ao qual ele chamava de Pai.

Fazendo isso, Jesus, integrante da camada popular passa a partilhar a mesa ceiando com doentes, ladrões, prostitutas e excluídos sociais.

Por isso, no momento em que ele discorda de tudo e propõe uma nova ordem para crer em Deus ele cria assim, uma seita; que na sua história iria ser perseguida, se fortaleceria e em 313 d. C. seria permitida diante as autoridades. Esse é o Cristianismo, maior confissão de fé do mundo e antes, uma seita.

Hoje com a validade do estado laico, ao menos em nosso país, esse conceito de seita já não se aplica e o significado dado à ela traz a ideia de algo negativo, que são os grupos que tem como práticas ações que firam física e psicologicamente outras pessoas. A Ku Klux Klan por exemplo foi um desses grupos, ao qual partia de uma ideia inicial de cunho religioso, entretanto, pregava a violência, racismo e o terrorismo contra àqueles que não se encaixavam no que eles julgavam a referência.

Seita hoje, seria um grupo de pessoas fazendo o que não é ético, não é moral e está contra as leis vigentes.

Pai Alexandre Cumino em  Teologia de Umbanda – Jornada

Religião acima de tudo o que foi dito, precisa ser em primeiro lugar um meio promotor da união, do auxílio, do crescimento, da organização e da guarda dos valores de cada cultura. Tudo o que fere, machuca, manipula, humilha, promove o ódio, é extremista ou fundamentalista precisa ser combatido e não é religião.

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Bom, acho que depois da leitura de mais de 2 mil palavras, temos argumentos suficientes para explicar o porquê da Umbanda SER religião e mais do que isso, ser A religião brasileira, que brinda em todos os seus ritos a cultura da nação verde e amarelo.

Axé a todas as religiões do nosso país! Saravá a todas as formas que temos de manifestar nossa fé! 

A Turma XVIII de Teologia de Umbanda – A Jornada, está com inscrições abertas para matrículas. O estudo inicia no dia 18/01 CLIQUE AQUI e confira o cronograma de aulas e as formas de ingressar.

Texto: 

Júlia Pereira

Imagem:

Pedro Belluomini

Estudos com inscrições abertas pelo
umbandaead.com.br
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Tel (14) 3010-7777
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Julia Pereira

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