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Linha Preto Velhos por Pai Rodrigo Queiroz

linha preto velho

Ditado por Pai João de Angola 

O balanço do navio ainda enjoava. Não sei o que mais enojava, se era o balanço do navio ou a visão mórbida de tantos corpos de meus confrades empilhados e já sem vida. Se o mau cheiro e a falta de espaço ou ainda os grilhões que nos prendiam.

Triste sorte, quem são estes animais hominídeos que nos amarravam, batia e subjugava.

Zâmbi estaria revoltado conosco? Ou os Orixás se esqueceram de seu povo?

Pensando assim é que muitos dos nossos não puderam se aproveitar da oportunidade em viver a escravidão. Processo este que se por um lado mancha a história da humanidade, por outro, “lavou a alma” de milhares de espíritos que na carne sentiu o gosto amargo da prestação de contas com o Criador.

Todos sabem que quando os africanos foram escravizados, a Igreja logo tratou de justificar isso, tirando nossa alma, assim fizeram com nossos irmãos indígenas. Claro, é mais fácil arrancar-lhe a alma ao ter que conviver com a consciência.

Não vou aqui estender aos interesses dos colonizadores ou acusa-los. Vou tentar mostrar o lado bom desta sangrenta moeda.

Acontece que na Mãe África as coisas não iam tão bem quanto parece nos contos. Nosso povo era bem desenvolvido, no entanto totalmente dirigido pelo mito, este que ditava nossas diretrizes ou nele é que justificávamos nossos atos. Atos estes nada bons.

É certo que o homem tem necessidade de conquista e expansão. Diferentemente dos índios, nos digladiávamos em busca de riquezas e poderio, o que é pior, justificando como vontade dos Orixás, foi assim que a tribo de Ogum, formado por homens geneticamente mais avantajados pontificou este Orixá como o Senhor das Guerras e da Milícia….

Neste sentido o povo africano estava se distanciando da vida natural ou da conservação da vida, não foi diferente com nossos irmãos ocidentais que jogaram a culpa em Jesus e saíram conquistando terras pela lâmina da espada, bem, mas isso é dívida deles.

Com a escravidão, nós tivemos a oportunidade de nos reconhecer como semelhantes, uma vez que a rincha em tribos era feroz. Subjugados tivemos tempo para pensar em nossos atos, fazer brotar a humildade, simplicidade, resignação e principalmente o amor á vida. Todavia, para os companheiros que chegaram nesta conclusão entendo que cumpriu com o propósito Divino, porém não foi simples assim, muitos outros milhares caíram no ódio, vingança e toda sorte de sentimentos contrários a evolução necessária.

Perdoar o seu algoz talvez seja a chave mais certa para a iluminação!

Sabedoria, eis o que simboliza a Linha dos Pretos Velhos, mas saiba leitor, esta sabedoria só existe pela vivência, por experiência, não se compra não se lê, simplesmente vive.

Humildade, sentimento este simples de entender. Se coloque como parte do meio que você vive. Ao invés de querer ser expoente, ou líder, ou coisa do tipo, procure somar, contribuir para solidificar. Veja o Brasil, a fama da construção deste país recai nos ombros dos Europeus que casa alguma teria erguido sem os braços negros do nosso povo. A meu ver mais vale o que é concreto do que é falácia.

Já no Astral o povo africano que tinha se redimido de seus débitos milenares, e já com a “alma lavada” foi convocado pelos Mestres da Luz a formar a linha de trabalho espiritual em auxílio dos encarnados, surge assim o Grau Preto Velho, onde se assentou os nativos africanos, que pontificava paralelamente com o grau Caboclo, enquanto os índios traziam a jovialidade, determinação e pureza natural, nós contribuiríamos com o culto aos Orixás, bem organizado. Com a experiência do ancião e a mandinga que cura e afasta todo mal.

Desta forma iniciava um entrosamento perfeito e renovado no Astral que sustenta tantos encarnados nas mais variadas religiões.
Assim é o arquétipo da linha dos africanos, baseado no ancião, no simples e sábio.
Estamos à disposição daqueles que apesar do coração oprimido ainda se permite acreditar sem perder a fé e a esperança, levar graça aos desgraçados, amor aos desiludidos.

Mantemos o rótulo do velho arcado, para que assim possamos nos aproximar dos amedrontados, pois se a primeira vista não apresentamos perigo, rapidamente sentam em nosso colo.

Somos os Pais Velhos, Preto Velho, Africano, Saravá o Orixá!

Nota do Autor: Finalizando este texto me lembro de um ponto que traduz esta linha “A Umbanda é linda pra quem sabe trabalhar quem não pode com mandinga não carrega patuá!”

Este relato apresenta claramente o que a escravidão significou para nossos irmãos africanos. Claro que não justifica nada, tampouco deve parecer uma concordância com este tenebroso passado, penso que a lição para nós é simples, pois este Preto Velho tenta nos mostrar que do mais pesado fardo, da mais profunda dor, do mais confuso tumulto é a oportunidade de tirarmos lições capazes de nos colocar em outro patamar evolutivo e amadurecer a alma, o coração.

Pense nisso!

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Fonte: este texto faz parte da apostila que compõe o material de estudos de Entidades de Umbanda, desenvolvido e ministrado por Rodrigo Queiroz.
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Rodrigo Queiroz

Filósofo, sacerdote de Umbanda, pesquisador da cultura afro-brasileira, fundador da plataforma Umbanda EAD e diretor da Instituição Ubuntu.

Estamos à disposição daqueles que apesar do coração oprimido ainda se permite acreditar sem perder a fé e a esperança, levar graça aos desgraçados, amor aos desiludidos.

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