Mito Mãe Iemanjá de Pierre Verger

Ode Iyâ Yemanjá Ataramagbá
ajejê lodõ, ajejê nilê! 

Iemanjá era filha de Olokum, a deusa do mar.

Em Ifé,  ela tornou-se a esposa de Olofin-Odudua, com o qual teve dez filhos.

Essas crianças receberam nomes simbólicos e todos tornaram-se orixás. Um deles foi chamado Oxumaré, o Arco-Íris, “aquele-que-se-desloca-com-a-chuva-e-revela-seus-segredos”. De tanto amamentar seus filhos, os seis de Iemanjá tornaram-se imensos .
Cansada de sua estadia em Ifé,
Iemanjá fugiu na direção o “entardecer-da-terra”, como os iorubas designam o Oeste, chegando a Abeokutá.
Ao norte de Abeokutá, vivia Okere, rei de Xaki.
Iemanjá continuava muito bonita.
Okere desejou-a e propôs-lhe casamento.
Iemanjá aceitou mas, impondo uma condição, disse-lhe:
“Jamais você ridicularizará da imensidão dos meu seios”

Okere, gentil e polido, tratava Iemanjá com consideração e respeito.
Mas, um dia, ele bebeu vinho de palma em excesso.
Voltou para casa bêbado e titubeante.
Ele não sabia mais o que fazia.
Ele não sabia mais o que dizia.
Tropeçando em Iemanjá esta chamou-o de bêbado e imprestável.
Okere, vexado, gritou:
“Você, com seus seios compridos e balançantes!
“Você, com seus seios grandes e trêmulos!”
Iemanjá, ofendida, fugiu em disparada.
Certa vez, do seu primeiro casamento,
Iemanjá recebera de sua mãe, Olokum,
uma garrafa contendo uma poção mágica pois, dissera-lhe esta:
“Nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.
Em caso de necessidade, quebre a garrafa, jogando-a no chão.”
Em fuga, Iemanjá tropeçou e caiu.
A garrafa quebrou-se e dela nasceu um rio.

As águas tumultuadas deste rio levantaram Iemanjá em direção ao oceano, residência de sua mãe Olokum.
Okere, contrariado, queria impedir a fuga de sua mulher.
Querendo barrar-lhe o caminho, ele transformou-se numa colina chamada, ainda hoje, Okere, e colocou-se no seu caminho.
Iemanjá quis passar pela direita, Okere deslocou-se pela direita.
Iemanjá quis passar pela esquerda, Okere deslocou-se pela esquerda.
Iemanjá vendo assim, bloqueado seu caminho para casa materna, chamou Xangô, o mais poderoso do seus filhos.

Kawo Kabyesi Sango, Kawo Kabyesi Obá Kossôl

“Saudemos o Rei Xangô, Saudemos o Rei do Kossô!”

Xangô veio com dignidade e seguro do seu poder. Ele pediu uma oferta de um carneiro e quatro galos, um prato de “amalá”, preparado com farinha e inhame e um prato de “gbeguiri” , feito com feijão e cebola.
E declarou, que, no dia seguinte, Iemanjá encontraria por onde passar.
Nesse dia, Xangô desfez todos os nós que prendiam as amarras da chuva. Começaram a aparecer nuvens dos lados da manhã e da tarde do dia.
Começaram a aparecer nuvens da direita e da esquerda do dia.
Quando todas elas estavam reunidas,  chegou Xangô com seu raio.
Ouviu-se então: Kakará rá rá rá..
Ele havia lançado seu raio sobre a colina de Okere.
Ela abriu-se em duas e suichchchch …
Iemanjá foi-se para o mar de sua mãe Olokum.
Aí ficou e recusa-se,desde então, voltar-se em terra.
Seus filhos chamam-na e saúdam-na:

“Odo Yá, a Mãe do Rio, ela não volta mais.
Iemanjá, a rainha das águas, que usa roupas cobertas de pérolas.”
Ela tem filhos no mundo inteiro.
Iemanjá está em todo lugar onde o mar vem bater-se com suas ondas espumantes. Seus filhos fazem ofertas para acalma-la e agrada-la.

“Odô Iyá, Yemanjá, Ataramagbá Ajejê Iodôl Ajejê nilêl

“Mãe das águas, Iemanjá, que estendeu-se ao longe na amplidão.
Paz nas águas! Paz na casa!”


Fragmento do livro: Lendas Africanas dos Orixás, Pierre Fatumbi Verger. 

Imagem: Pixabay

Julia Pereira

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