Bom para você que se dirigiu a esse texto munido de curiosidade ou até mesmo descontentamento, vamos aos fatos..
Branco da África
O uso do traje branco tem seus primórdios nas tradições africanas onde segundo os mitos existe uma classe de divindades chamada de Orixás “fun fun” ou Orixás “que vestem branco”, nessas culturas eles estão relacionados com a criação do mundo e os seres – são esses Oxalá, Orinxalá, Oxalufã, Oxaguiã, Odudua dentre outras denominações.
Um dia Olorum chamou à sua presença Orinxalá, o Grande Orixá. Disse-lhe que queria criar terra firme lá embaixo e pediu-lhe que realizasse tal tarefa.
Mitologia dos Orixás, Reginaldo Prandi
Em cada país uma cultura para o dia da virada se disseminou, assim com a data em que ele é comemorado. Na Itália por exemplo é tradição comer lentilha, beijar alguém embaixo do visco (um tipo de planta), vestir uma roupa nova e jogar fora uma velha. No Brasil é claro que essa tradição iria sofrer influência da cultura dos povos que formaram nossa nação e como já citado o branco é uma dessas influências que veio junto de nossos antepassados africanos. Agora o branco na praia e mais precisamente na virada já faz parte de uma manifestação mais recente e de Umbanda!
Estudo 100 % on-line sobre os Orixás na Umbanda com Pai Alexandre Cumino
Por que o título do texto diz que é um rito umbandista?
Bom usar branco na virada é um rito de Umbanda pois o ato de ir as praias vestindo-se de branco é uma prática exclusivamente umbandista, que tem origem na tradicional Festa de Iemanjá, que ocorre no mês de Dezembro e que no seu apogeu conseguiu reunir mais de 1 milhão de pessoas* para render homenagens à Rainha do Mar.
No evento umbandistas de todos os lugares do país se reuniam em torno do culto à Mãe Iemanjá e nessa ocasião jogavam flores ao mar, tomavam banho de champagne, pulavam 7 ondas etc. Essa aglomeração dos filhos de santo todos vestidos de branco foi sendo visado cada vez mais pelos meios de comunicação da época, chegando a ser retratado em jornais, novelas e comercias o que ajudou a inflamar essa nova onda.
Após a explosão dos festejos da Orixá, a cultura popular foi agregando esses ritos como algo natural à passagem do ano brasileira. Vale lembrar que essas manifestações em Praia Grande, litoral paulista aconteciam entre 8 e 9 de dezembro e é só quando essas manifestações chegam no Rio de Janeiro que os festejos passam para o 31 de dezembro e se propagam pelo país inteiro.
A primeira festa à Iemanjá com um grande número de tendas e médiuns aconteceu em 1953 e foi realizada por Félix Nascentes Pinto, o lugar em que se realizou essa festa hoje chama-se Vila Mirim, que é uma homenagem conquistada por Félix Nascentes ao Caboclo Mirim, guia espiritual de Benjamin Figueiredo, sacerdote que o acolheu em sua primeira manifestação mediúnica.
Félix também responsável pela fundação em 1960 do primeiro Primado de Umbanda de São Paulo, hoje Primado do Brasil. Já a primeira festa oficial de Iemanjá em Praia Grande, com outorga da prefeitura e tudo mais, acontece 16 anos depois, na administração de Dorivaldo Lória Junior, que tinha como sua esposa Layde Rodrigues Reis Lória, simpatizante da Umbanda.
Após isso a festa cresce e atinge os números citados no início do texto, popularizando os ritos praticados nessas datas por umbandistas e promovendo a sua expansão para a Praia de Copacabana e resto do país.
Usar branco no dia da virada se tornou parte da cultura brasileira e a sua comemoração por toda sociedade, se deve também, a imagem que foi construída em torno de Mãe Iemanjá que era considerada símbolo de bom agouro, prosperidade, dinheiro, sorte dentre outros atributos.
Hoje praticamente o país inteiro se veste de umbandista no momento em que todos pedem por um mundo, vida e realizações melhores no próximo ciclo. Portanto, nesta noite aproveite para vestir seu melhor branco e se unir à essa egrégora de paz, amor e união que faz parte da irradiação e regência de Mamãe Iemanjá!
Salve à Mãe Iemanjá, Odocyabá! Salve o Povo de Branco!
Estudo 100 % on-line sobre os Orixás na Umbanda com Pai Alexandre Cumino
Leia também: Pulando 7 ondas, de branco no revéillon – texto de Pai Rodrigo Queiroz sobre o assunto
Fontes:
História da Umbanda, Alexandre Cumino, Ed. Madras
História da Umbanda no Brasil, Diamantino Trindade, Ed. Conhecimento.
*informações extraídas de arquivos de jornais indexados no livro História da Umbanda no Brasil, Diamantino Trindade.
Texto:
Júlia Pereira
Imagem:
Divulgação internet (clique e acesse)