Seg, 2 de Maio, 2016
Toda religião tem seu altar, onde estão imagens, símbolos, ícones ou elementos indispensáveis à sua liturgia.
Por liturgia, entendam como o conjunto de recursos ou “artigos” indispensáveis às práticas religiosas.
Bom, o fato é que os altares não existem só porque alguém inventou um e depois todos os copiaram, só modificando os elementos distribuídos neles. Não mesmo, sabem?
Sim, porque nós bem sabemos que um altar tem como principal função criar todo um magnetismo de nível Terra, através do qual as irradiações verticais das divindades descerão até ele e, a partir dele, continuarão fluindo na horizontal, ocupando todo o espaço destinado às práticas religiosas que serão realizadas diante dele, e em nome das divindades cultuadas e nele assentadas.
Um altar é um ponto de forças religiosas e, se devidamente erigido e fundamentado, através dele as irradiações das divindades alcançarão todos os fiéis postados diante dele. Nós, ao contemplarmos o altar de um Templo de Umbanda Sagrada, vemos imagens de santos católicos, de divindades naturais, de anjos, arcanjos, Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Sereias, etc.
Para um leigo no assunto, a miscelânea religiosa não tem uma explicação lógica, pois junta elementos de diferentes religiões num mesmo espaço religioso, quando o mais comum é as religiões banirem de seus templos todo e qualquer elemento estranho a ela ou pertencente a outras, certo?
Mas a Umbanda é uma síntese de todas as religiões, e todas reunidas num mesmo espaço religioso. Portanto, nela estão presentes correntes de espíritos hindus, chineses, persas, árabes, judeus, budistas, dóricos, egípcios, maias, incas, astecas, tupis-guaranis, … e cristãos! E cada corrente espiritual se formou sob o manto luminoso da religião, à qual seus membros formaram sua crença no Deus único e nas suas divindades humanizadas, para melhor falarem dele aos seus filhos.
Cada linha de trabalho do ritual de Umbanda Sagrada é regida por um Orixá intermediador, que também pode ser um espírito ascencionado e assentado nas hierarquias naturais pelos senhores Orixás intermediários, que os tem no grau de seus intermediadores para a dimensão humana da vida, que é onde os seres espiritualizados (nós) vivem e evoluem.
Então os médiuns, todos com alguma formação cristã, colocam Jesus Cristo, um Oxalá intermediário humanizado, como o pontificador de seu altar, distribuindo mais abaixo as imagens dos santos sincretizados com os outros Orixás. O sincretismo explica o uso de imagens cristãs e o fato de que muitos espíritos que incorporam nos seus médiuns terem evoluído sob a irradiação do Cristianismo as justifica. Assim como a imagem de “Caboclos”, índios ou soldados “romanos” (linha dórica) são explicadas como sinalizadoras de que ali baixam mentores espirituais cuja formação religiosa processou-se sob a irradiação de outras religiões.
E o uso de cristais, minérios, flores, colares de pedras semipreciosas, armas simbólicas, símbolos mágicos, etc., explica que muitas linhas de forças intermediárias, intermediadoras ou espirituais ali estão representadas, ativadas e prontas para intervirem em benefício de quem for merecedor do auxílio dos espíritos ou dos Orixás.
Os fundamentos religiosos e mágicos de um altar, só mesmo quem o erigiu pode explicá-lo. Mas o fundamento divino que justifica a existência deles nos templos, é esta:
“Todo altar é um local onde, se nos postarmos reverentes diante dele, estaremos bem de frente e bem próximos de Deus e de suas divindades humanizadas.”
Mas existem altares naturais que são locais altamente magnetizados ou são vórtices eletromagnéticos, cujo magnetismo e energia criam um santuário natural que, se o consagrarem às práticas religiosas, neles as pessoas entrarão em comunhão com as divindades naturais regentes da natureza.
Saibam que o culto junto a elementos da natureza, onde são tidos como potencializadores da fé das pessoas, não é um privilégio do Candomblé ou da Umbanda, pois todas as religiões os tem. Vamos a alguns locais:
— Islamismo: culto à Caaba ou pedra fundamental da religião islâmica.
— Judaísmo: culto à Montanha Sagrada onde Moisés recebeu de Deus os Dez Mandamentos.
— Religião Grega: Monte Olimpo.
— Taoísmo: Montanhas Sagradas.
— Budismo: Montanhas Sagradas.
— Hinduísmo: Rio Ganges, e muitos outros pontos da natureza.
— Xintoísmo: Monte Fuji (Japão), montanha sagrada e símbolo religioso nacional do povo japonês.
— Naturalismo Inglês: Stonehenge, santuário natural construído por gigantescos monólitos, com datação de uns 3.000 anos antes de Cristo.
— Hunas: Havaí, Kilauea, o vulcão sagrado.
— Cristianismo: Monte das Oliveiras e a Colina do Gólgota.
Bom, paramos por aqui, pois como viram, toda religião tem seus lugares sagrados ou santos. Umas vivem a criticar ou renegar as práticas das outras, mas algo superior conduz todas aos seus fundamentos “naturais” onde as pessoas associam locais com poderes supra-humanos e os tornam santuários ou altares a céu aberto, onde cultuam Deus e suas divindades.
A Umbanda, porque derivou dos Cultos de Nação (Candomblé) e fundamenta-se nos sagrados Orixás, os quais (corretíssimo) regem os elementos e a própria natureza, com a qual são associados, não dispensa seus santuários naturais. Assim, a montanha é o santuário natural de Xangô e uma pedra-mesa é um altar, onde o oferendam.
Os rios são o santuário de Oxum, e uma cachoeira é um seu altar, onde é oferendada.
O mar é o santuário de Iemanjá, e a praia é seu altar, onde é oferendada.
As matas são o santuário de Oxóssi, e um bosque é o seu altar, onde é oferendado.
E com todos os outros Orixás o mesmo acontece, pois são os regentes naturais do nosso planeta e antes de surgir qualquer religião eles já o regiam, e sempre o regerão, assim como nos regerão, pois somos seus filhos naturais. Portanto, antes de criarem os templos e seus altares, já reverenciavam as divindades e cultuavam o divino diante de seus altares naturais localizados em seus santuários, que é a própria natureza.
Extraído do Livro “Doutrina e Teologia de Umbanda”, Editora Madras e publicado originalmente no blog do Umbanda, Eu Curto! Clique aqui para acessar.
Imagem: Arquivo ICA
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